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A viagem foi desgastante.
Eu carregava apenas minha mochila com algumas peças de roupa. Nada em excesso. Levava apenas um kit de sobrevivência. Tinha comigo uma boa quantia em dinheiro o que, segundo meus estudos, daria para me manter por uns meses até arrumar emprego. Já tinha o endereço de uma pensão ali mesmo no Centro do Rio. Fui caminhando e mal podia acreditar que eu estava sozinho no Rio de Janeiro. Logo eu, que nunca tinha saído de São Paulo. Nasci e fui criado no bairro tradicional, a Moóca.
Cheguei na pensão. Era um sobrado mal conservado e a primeira impressão que tive não foi das melhores. Procurei a proprietária. Havia falado com ela alguns dias atrás. O preço que ela havia passado não conferia com o que me foi oferecido.
Toquei a campanhia e saiu uma senhora muito gorda. Trajava um vestido sujo. Assustei-me e não consegui disfarçar. Ela ficou me olhando e eu logo perguntei:
- Aqui é a casa da Andréa?
- Aqui não tem Andréa nenhuma!
Ela virou as costas e fechou o portão sem dizer mais nada. Fiquei aliviado. Agora entendi quando dizem que a primeira impressão é a que fica; fica e ficou. Fui caminhando e vi que por ali passavam vários ônibus para as praias. Logo estava rumo à Copacabana. Pedi ao cobrador que me deixasse em uma avenida principal de Copacabana. Depois de um tempo, estava eu andando na Avenida Barata Ribeiro. Uma avenida movimentada. Tudo era novo e ao mesmo tempo nada diferente de São Paulo. Fui caminhando, procurando algum lugar em que pudesse me hospedar. Fui andando e, derrepente eu estava de frente para o mar. Aquele mar lindo.
Fui até a areia e não resisti. Tirei o tênis, dobrei a barra da calça e fui até beira mar. A praia era linda demais. Pessoas correndo, andando, pedalando. Gente bonita. A tarde estava quente. Uma brisa deixava tudo perfeito. Sentei na areia e fiquei ali sem perceber que a noite ia chegar e eu ainda não tinha um lugar para ficar. Comecei a ficar com receio por causa do dinheiro que eu carregava. Eu nem podia pensar em perder aquela mochila. Coloquei de novo o tênis e voltei para a Avenida Barata Ribeiro. Comecei a perguntar aos comerciantes sobre pousadas, pensões e cheguei até a pousada Palmeiras. Entrei e senti um ambiente bem aconchegante.
- Pois não! Posso ajudar?
- Boa tarde! Eu preciso de um quarto.
- Quanto tempo?
- Não tenho previsão, mas posso pagar adiantado.
- Você quer com meia pensão? – perguntou a recepcionista que tinha um olhar curioso.
- Meia pensão é com uma refeição?
- Café da manhã e almoço. A janta é por sua conta.
- Meia pensão.
- Preciso de um documento com foto.
Eu olhava aquela moça na minha frente. Morena, queimada de sol. Marcas de biquíni bem à mostra. Usava uma camiseta regata branca, pulseiras, anéis. Tinha cabelos bem negros e lisos. Olhos castanhos esverdeados. Usava uma bermuda jeans e um chinelo de couro. Não deveria ter mais que vinte e quatro anos. Fiquei tranquilo. Sua presença me fez bem. Iria ser bom vê-la todos os dias.
- Você pode, por favor, preencher essa ficha?
- Claro. Seu nome é?
Ela me olhou como se eu tivesse feito a pergunta mais absurda do mundo. Houve um silêncio mortal. Nossos olhos estavam mergulhados um no outro. Desviei o olhar e comecei a preencher a ficha.
- Você é de São Paulo?
continua
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