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terça-feira, 19 de abril de 2011

A culpa é de quem...

Meu avô conheceu minha avó no mercado municipal. Minha bisavó e meu bisavô que eu não conheço, tinham uma banca de frutas. Eles namoraram casaram e mesmo meu avô não querendo que minha avó engravidasse, eis que surge a bem quista Roseli, minha tia. Tudo estava bem. Eis que minha avó engravida novamente e mesmo contra a vontade do meu avô, nasce Marina, minha mãe. Pelo que sei, nunca foi uma criança querida, sofrida desde o nascimento, foi criada a esmo, a Deus dará e deu. Deu uma cruz enorme e assim começou através de erros lá no passado bem remoto, o calvário de todos nós, filhos dos Santos. Minha mãe, Marina, conheceu meu pai, Ricardo, cinco anos mais velho que ela. Eis que minha mãe com apenas quatorze anos resolve casar com meu pai. Claro que para se livrar da cruz, meu avós aceitando a rebeldia de minha mãe consentiram. Deveriam ter dado uma surra, trancado-a num quarto a sete chaves. Minha mãe casou com um homem que não trabalhava, que bebia, que vinha de uma família desorganizada. Eu os conheci quando eu tinha vinte três anos, mas isso é uma outra história. Minha mãe casada, foram morar em uma casa que ficava nos fundos da casa da minha avó (materna). Pelo que me consta, uma mulher violenta e super protetora, mais tarde eu confirmei isso. Bem, minha mãe engravidou e deu a luz com quinze anos de idade, ao meu irmão João Carlos, que logo no nascimento, foi praticamente adotado como filhos, pelos meus avôs (maternos), pois julgavam que minha mãe não tinha condições de criá-lo, mas deixaram que ela casasse, sei... Depois de um tempo, não sei ao certo, nasceu meu segundo irmão Sergio e Deus o poupou desse calvário, carregou para o céu novamente. Depois heis que nasce Eduardo, eu, o filho do meio. Pelo que minha mãe conta, o filho que mais tempo, por infelicidade do destino, conviveu com o pai. Desde o nascimento, compartilhei com minha mãe a dor. Meu pai chegava em casa bêbado e agredia minha mãe. Não tínhamos luxo, nem conforto e meu avô Carlos, pai do meu pai, levava água com açúcar para que eu tomasse e pudesse dormir. Um ano se passou e nasce aquela que nos salvaria de todo esse martírio, minha irmã, Andréa. Como era a única neta, meus avôs maternos se compadeceram e tiraram minha mãe e eu do sacrifício e nos acolheram em sua casa na Avenida Bosque da Saúde. Esses relatos são fragmentos que colhi nas conversas com minha mãe, meu avô. Minha avó nunca falou sobre isso. Minha mãe foi trabalhar e minha avó Lourdes ficou encarregada de cuidar dos dois netos. Dois, porque meu irmão foi adotado como filho. Eu e minha irmã, netos. As lembranças que tenho dessa fase são ótimas. Todas as minhas boas lembranças trazem minha avô a memória. Da minha mãe consigo lembrar de quando comprou nossa primeira televisão branco e preto e que eu pude assistir o pica-pau. Outra coisa que me lembro era seu terrível mal humor. Lembro-me também que sempre muito apegado a ela. Fazia planos. Quando eu crescesse, ia comprar uma casa e cuidar da minha mãe até ela ficar velhinha. Eu esperava ela no ponto de ônibus quando ela chegava do trabalho, Eu a buscava com o guarda-chuva. Penteava seus cabelos, beijava seu rosto. Lembro-me também que acordava cedo e ia comprar pão e leite e deixava a mesa pronta para que todos tomassem café. Da minha avô, lembro de todas as noites perdidas comigo no pronto socorro quando me atacava a crise de bronquite. Saíamos de madrugada e ninguém nos via. Fazia inalação e voltávamos. Minha avó dormia comigo no sofá. Eu não podia dormir no quarto com meu irmão. Meu peito chiava muito e ele não conseguia dormir. Eu e minha avó dormíamos no sofá. Ela nos levava para a escola e nos buscava. Lembro que brincava e brigava muito com meu irmão, Quando num acidente cortei os pulsos, minha avó correu comigo para uma clínica. Sua blusa amarela se lavou de sangue e graças a ela e ao médico de plantão, não perdi os movimentos da mão direita. Eu era assim, terrível. Meu avô? Não se preocupe. Logo logo ele aparece. Meu irmão jogava bola. Ruim demais, corintiano, puxou o pai sem saber. Era e é até hoje a cópia mais fiel de dois seres humano. Minha irmã sempre a frágil, a doente, a debilitada. Spo sabia rir. Nós a chamávamos de risoleta. Eu era o endiabrado, o inquieto, o furacão branco. Eu sempre fui rueiro. Adorava ficar na rua com os amigos de infância. Brincávamos livres. Há no Bosque da Saúde, uma praça com um morro bem íngreme, gramado. Lá passávamos a tarde escorrendo em folha de papelão. Falávamos sobre meninas e no dia da festa de São Cosme, São Damião e Doum, esperávamos afoitos as oferendas de doces deixadas embaixo das árvores. Comiámos doces, bebíamos guaraná e voltamos felizes para casa. Na escola eu era um terror. Sempre vivo, sempre sorridente. Eu minha shorts jeans que minha avó fez, camisa de manga curta