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terça-feira, 16 de novembro de 2010

AMANHÃ

Eu nunca pensei no amanhã.

Queria viver meu hoje e sentir saudade do meu ontem. O amanhã era para mim algo distante. Bem distante. Mas um dia percebi que meu reflexo no espelho estava mudando. Meu rosto não era mais o mesmo. Olhei para trás buscando uma saudade. Não havia nada. Nada para que eu pudesse me agarrar. Meus dias eram vazios e cada dia eu me perdia um pouco mais. Olhei para o amanhã com medo e mesmo diante de tantas incertezas, sonhei com dias melhores. Vi ilusões vestidas de certezas.

Era algo intocável.

Algo que estava ali diante dos meus olhos. Não sabia o que fazer para alcançá-los. O medo me dominava e a vida passando.

Procurei nos livros e encontrei perdida entre linhas esquecidas uma frase que dizia:

- SEU AMANHÃ É SEU HOJE

Demorei em entender, para perceber. Foi então que decidi mudar meu modo de pensar. Entendi como são construídas as pontes. Aprendi a sonhar. Entendi o que era viver e o que a vida esperava de mim.

Hoje vivo meu hoje ainda mais intensamente. Plantando sempre as sementes do meu amanhã. Depende de mim e do meu esforço. Posso tudo.

Meus planos para meu amanhã?

Fazer a coisa certa hoje!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DE NOVO

Eu queria apenas voltar para casa.
A saudades de tudo estava forte demais. Não via a hora de encontrar meus filhos, minha casa. Precisava voltar para minha vida.
Recomeçar de onde havia parado. Aqueles anos longe mudaram minha maneira de ver a vida. Não queria mais nada daquilo.
Fui condenado a mais de 25 anos de cadeia. Crime? Homicidio.
Eu amava demais minha mulher. Cheguei em casa um dia e vi um homem conversando com ela no portão de casa. Fui tomado pelo ciúmes. Hoje sei que não havia motivos. Vilma sempre fora uma mulher carinhosa, fiel, mãe exemplar, esposa carinhosa. Naquele dia nada disso me fez parar. Vendo o sorriso estampado em seu rosto, sentindo a proximidade dela com aquele homem no portão da minha casa, fiquei cego, louco. Senti um torpor forte. Parei e fiquei imaginando tudo. Minha mulher se entregando para aquele homem nas horas que eu não estava. Meus filhos correndo ao seu encontro e dando para ele o amor que era meu. Imaginei ele na minha cama, comendo na mesa com minha família a única razão que eu tinha para me sentir vivo e forte. Parei e fiquei ali, olhando a cena enquanto era consumido por inteiro por todos os piores sentimentos. Vi o exato momento que ele se aproximou e a abraçou beijando-lhe a fase. Se despediu e partiu deixando-a com o sorriso no rosto.
Cheguei em casa e não disse nada. Ela também não me falou nada. Não me disse quem era aquele homem que parecia ser íntimo demais.
Tentei agir da maneira mais natural possível. Dias se passaram e tudo para mim era motivo. Desconfiava de tudo. Já não conseguia olhar para ela
como sempre. Ela era pra mim uma vaca, uma vagabunda que apoveitava o momento em que eu não estava em casa para se entregar para outro
homem. Não pensava em mais nada. Comecei a não render no emprego. Andava todos os dias de péssimo humor. Comecei a me fechar e a enlou quecer sozinho. Cada vez mais calado. Nem meus filhos me faziam rir. Achava que eles eram cumplices.
Um dia, não estava passando bem, acabei voltando mais cedo para casa. Vilma não estava. As crianças estavam na escola e a casa para mim estava largada como se alguém derrepente saisse correndo. Fui para o quarto. A cama estava arrumada mas com a nítida impressão que alguém
se deitou nela, deixando marcas na colcha. No banheiro, a sensação que alguém havia acabado de tomar banho. Os frascos de perfume estavam abertos na penteadeira como se Vilma acabasse de usá-los e com pressa saiu sem tampá-los. Comecei a vasculhar tudo em busca de vestígios. Ela
havia deixado o telefone celular. Olhei e vi suas últimas ligações recebidas. Olhei suas mensagens:
- Passo na sua casa daqui a meia hora. Me espere no portão. Paulo.
Havia um número de telefone. Claro que eu liguei. Claro que caiu na caixa postal. Ela recebeu a mensagem as 14:00hs. Meus filhos entravam na escola as 13:30 e era ela que deixava meus filhos na escola. Por isso a pressa em se arrumar. Sai desesperado. Não via nada. Não via ninguém. Tive vontade de acabar com minha vida, tive vontade de acabar com tudo. Fui envolvido por todos os piores sentimentos. Raiva, ódio, magoa, uma fúria descontrolada. Queria me vingar. Pensava em tudo. Peguei o carro e fui para o centro da cidade. Estava cego.
Deixei o carro estacionamento e sai. Não via nada. Nem ninguém. Via apenas Vilma se entregando para aquele homem. Via ele possuindo a mulher que era minha. Vi sua cara de prazer. Parei em um bar. Eu nunca havia parado em um bar. Pedi uma bebida forte. O rapaz do balcão me serviu um conhaque. Aquele líquido queimou as últimas sensações de bondade que haviam em mim. Decidi matá-la. Tomei mais algumas doses de conhaque.
Mais umas e umas. Comecei a me sentir forte, imbatível. Sai dela com a boca amarga. Cheio de ódio.
Quando cheguei em casa ela ainda não estava. Fui para o meu quarto. Abri o cofre, peguei o revólver calibre 38, coloquei as seis munições e fui para a sala. Apaguei as luzes. Fechei as cortinas. Sentei e esperei. Não era mais eu que estava lá.
18 horas e vinte cinco minutos. Escuto Vilma chegar. Assim que ela abriu a porta e acendeu a luz, descarreguei toda minha fúria. Dei seis tiros na mulher que eu mais amava. Meus filhos estavam com ela. Viram a mãe cair praticamente aos meus pés. Lágrimas cairam. Meus filhos debruçados
sobre a mãe choravam desesperados. O barulho chamou a atenção dos vizinhos. Sentei e esperei a policia chegar. Sai de lá, deixando minha mulher morta, meus filhos sem pai e agora sem mãe. Dias mais tarde fiquei sabendo que aquele homem era apenas um vendedor. Ele passou em casa para ir com minha mulher até a loja para justamente escolher o meu presente de aniversário. No dia que eu os vi em casa, ele havia levado um catálogo para que minha mulher pudesse ter a idéia do que me dar de presente de aniversário de casamento.

domingo, 15 de agosto de 2010

MUROS

Se eu pudesse voltar atrás, queria que tudo fosse como antes, em que podíamos conversar sem qualquer pretensão, sem agressão. Éramos sim amigos despretensiosos.Queríamos apenas estar. Mas aos poucos tudo ficou pesado. As palavras ficaram amargas. Começou a se querer muito. Começaram a existir culpas e culpados. A amizade se perdeu. Feriu-se. Deixamos de nos ver como nos víamos. Deixamos de ser amigos. Ficamos preocupados em medir força. Força desnecessária. Perdemos a essência.Tenho sim saudades do tempo que passávamos horas e horas falando. Eram dias e tardes. Eu ria, sorria. Sentia-me bem. Não havia intenção nas palavras. Não havia necessidade de se cobrar nada. Tudo isso se perdeu. Abrimos-nos demais e nos perdemos. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria no exato momento em que nos conhecemos e nos falamos pela primeira vez. Iria apenas falar de poesia, iria apenas falar das cantigas. Iria pegar o seu melhor e somar a minha vida.Hoje, achamos que nos conhecemos demais. Hoje, achamos que podemos demais. Hoje, perdemos tudo por nossa culpa.Ficamos preocupados com os pensamentos. Tudo ficou pesado. Articulado. Presos nas armadilhas que criamos. Conhecemos-nos sem nos conhecer. Sinto sim, falta da amizade que um dia tivemos. Era bom demais conversar despretensiosos. Havia a necessidade do bom dia. Havia o desejo de compartilhar, de compactuar por que é disso que é feito a amizade.Hoje, não somos mais libertos. Há culpa, há dor, magoa, cicatrizes que ainda sagram e saberá Deus ainda por quanto tempo ira sangrar. Se eu pudesse voltar atrás, voltaria. Amei o momento que vivemos. Foi lindo. Foi nosso. Foi inesquecível. Não nos conhecemos mais ou nos conhecemos demais ou ainda achamos que nos conhecemos e foi nesse exato momento que nos perdemos. Perdemos o sentido de tudo. Viramos o oposto do que queríamos. Armamos-nos e atacamos sem se importar com o que estava sendo perdido. Colocamos-nos a frente de nós mesmos e perdemos. Começamos então a desfazer tudo o que foi criado. Começamos a desmontar sem perceber a ponta que construímos e passamos a erguer um muro intransponível. Usamos tudo de nós contra nós mesmos. Tenho saudade sim dos dias que conversávamos despretensiosos sobre tudo. Falávamos de amor, de paixão, falamos de poesia.Tudo isso bastava e era isso que eu queria. Mas as peça de uma máquina se desgastam. As engrenagens empenam. E assim foi conosco. Sete anos, todos os dias, falando, nos dando, exigindo de nós sempre mais e mais. Começamos a nos arranhar, a nos machucar e nem percebemos que aos poucos, já não éramos mais o mesmo.E não somos mais os mesmos. Já não sabemos mais nada de nós. Cada dia um tijolo no muro que nos separava. Hoje não sei mais nada de você e você não sabe mais nada de mim. O muro se ergueu alto demais. Ouvimos apenas nossos gritos. O som oco de nossa voz. Aos poucos se tudo continuar assim, logo nossa voz será abafado pelos nossos gritos e não mais nos escutaremos. Tenho saudade sim, dos amigos que fomos um dia. Hoje não me conheces e eu já não te conheço mais. Cada dia, um tijolo. Cada dia, cada vez mais, nossa voz apagada. Restará somente, as mãos calejadas, os tijolos e a lembrança do que já fomos. Se eu pudesse, voltaria atrás no exato momento em que nos conhecemos.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

UM POUCO CADA DIA

... é como se eu soubesse o que vai acontecer amanhã. Tenho medo e ao mesmo tempo estou tranquilo. Só não sei como será. Gostaria que fosse dormindo para que eu não sentisse nada. Nunca gostei da dor. Parece que só assim, estando do outro lado é que poderei ser útil. Parece que só estando do outro lado é que poderei fazer alguma coisa. me sinto inútil, incapaz. Todas as ações
terminam em nada. As pessoas não estão felizes. Os seus semblantes estão sempre carregados. Confesso é difícil viver assim. Viver cansa. Já tentei de tudo. Fiz o que é certo e também o que é errado. Amei, me dediquei, esqueci, voltei, tentei. Perdoei, pedi perdão, sorri, chorei e agora parece que nada disso tem importância. Sinto que morro um pouco a cada dia. Parece que a vida vai me deixando. Minhas vistas parece que perdem a força. Meu peito tem doido muito e nem reclamar eu posso. Tenho que ser forte, mas sinto minha força se perdendo. Terei agora todos os motivos para querer viver. Ainda tenho sonhos e muitos sonhos vivos. Tenho esperanças ainda e mesmo assim sinto que não há tanta vida como havia. Eu já fiz tanto. Tanto que já vi. Parece que agora nada mais tem graça e justamente agora que a vida me dá mais uma chance para seguir em frente e ver meus sonhos começando a se realizar. Parece que morro um pouco a cada dia mesmo querendo viver. Me sinto fraco, perdido vendo as pessoas que amo, preocupadas, tristes me parecendo incapazes de serem felizes. Me sinto culpado por tudo e isso vai me matando aos poucos e luto para que essa tristeza não chegue até meu coração. Depois de tudo o que passei tenho quase certeza que meu coração não aguenta... Parece que morro um pouco a cada dia...

terça-feira, 15 de junho de 2010

SEPARAÇÃO

Entenda, deixe de amar você... Na verdade, não sei se era amor... Por isso não quero mais... Não suporto a idéia de dividir com você a cama gelada.

Não suporto mais a idéia de mentir para mim e para o mundo dizendo que nossa relação é perfeita. Não é... Queria um marido, um homem e não um filho.

Nem fuder direito você sabe. Sempre afoito, nunca me fez mulher. Nunca me pegou de jeito. Nunca ousou. Sempre previsível.

Entenda, deixei de querer estar com você. Cansei de ser a santa, a escrava, a submissa. Aquela que escondia os seus trambiques. Aquela que ficava assistindo tv enquanto você roncava do meu lado. Quero um homem, que sabia trocar uma lâmpada, que saiba cozinhar, que beba vinho, que saiba cantar. Um homem que goste de Tim Maia e não de Timbalada. Gosto de um homem que me acaricie no meio da noite, que me ame sem eu esperar e não alguém que me faça toda noite ir dormir no sofá. Quero um homem que me coma, que saiba que sou feita de carne e osso. Que me trate como rainha e como puta.

Agora é tarde. Aprendi que tendo asas posso voar quando bem entender. Não gosto mais de você. Nem te amo mais. Na verdade, acabei me condicionando nessa maldita zona de conforto. Mas que merda de conforto é esse? Sou eu que faço tudo. Só falta eu escovar os dentes pra você. Não sou egoista. Eu reconheço. Você se esforçou para ser o pior e conseguiu. Achou que me dando dinheiro eu estava feliz. Não estava.

Quero mais. Mais vida. Mais alegria. Quero gente animada. Quero dançar. Beber. Quero fuder. Beijar na boca. Quero me sentir viva. Amada. Quero que façam por mim o que você nunca fez. Não quero ser mãe de um homem com quem me casei. Quero ser amante, cúmplice. Não quero colares de diamantes. Quero alguém que me faça bem e você, não me faz mais.

Entenda, será melhor assim. Você fica com o carro, com a tv de LCD, fica com o notebook, fica com o apartamento e eu fico com minha vida, com minha liberdade.

Descobri que ainda posso viver muito. Que tenho muito que viver e amar e ser amada de verdade. Preciso encontrar agora alguém que cuide de mim. Alguém que me entenda, que me escute, alguém que me faça bem.

Não quero mais viver como eu vivi esse tempo todo. Não tenho nada que me prenda.

Apenas minha vida. Apenas a história que começo a escrever de agora em diante.

Você, já não é mais problema meu...

domingo, 23 de maio de 2010

SENSORES


Eu cheguei em casa muito puta da vida. Todas as vezes que eu voltava do trabalho tinha que obrigatoriamente passar em frente daquele condomínio. Não tinha outro caminho. Todos os dias era a mesma coisa. O rapaz que trabalha na portaria do prédio insistia em mexer comigo. Parecia até que ele me esperava. Eu já não sabia o que fazer. Eu era uma mulher casada, mãe de dois filhos e não podia ficar agüentando desaforo. Mas, eu sabia que se contasse o que estava acontecendo comigo para meu marido ele certamente iria querer tirar satisfação com o porteiro. Aquela situação começava a me apavorar. Tinha medo de sair sozinha. Achava que estava sendo seguida e que a qualquer hora iam parar o carro e me jogar para dentro e sabe-se lá Deus o que aconteceria. Agüentei isso a meses desde que resolvi para em frente a portaria e falar com o cidadão e se não desse jeito, falaria com meu marido. Aquilo precisava acabar. Toquei o interfone:
- Posso ajudar?
- Pode. O senhor é que fica todos os dias nesse horário?
- Sou eu mesmo. Eu vejo mesmo a senhora passar por aqui todos os dias o mesmo horário. A senhora chega tarde do trabalho.
- Escuta aqui seu cachorro sem vergonha, é bom você para de mexer comigo. Sou uma mulher casada e não aceito esse tipo de coisa. Se o senhor não parar meu marido virá tomar satisfação com o senhor e sabe-se lá o que vai acontecer. Não diga que o senhor não foi avisado.
Nesse meio tempo, uma senhora encostou do meu lado e disse:
- Eu sou a síndica do prédio, posso ajudar?
- Ah que bom que a senhora veio. Esse seu funcionário todos os dias mexe comigo. Eu sou uma mulher casada e não admito esse tipo de coisa. Faz tempo que venho agüentando só que chega uma hora que não dá mais. Chego cansada todo dia pra ficar agüentando palhaçada.
- A senhora está falando do seu Francisco.
- Eu não sei se é do senhor Francisco, Benedito ou do senhor Antonio. Só sei que a senhora tem tomar uma atitude ou meu marido vai vir aqui e ai senhora sabe-se lá o que vai acontecer.
- Seu Francisco venha cá um pouco.
Me sai da guarita um senhor de mais ou menos 70 anos. Cabelos brancos, óculos de grau acentuado e com certa dificuldade para caminhar. Fui logo soltando o verbo.
- Seu velho safado. O senhor tem que ter mais respeito pelas pessoas. Onde já se viu um senhor da sua idade mexendo com uma mulher casada, mãe de dois filhos. Chego cansada e tenho que ficar agüentando desaforo. A senhora dona Síndica tome uma providência, se eu falar para meu marido e ele vier aqui, sabe-se lá o que vai acontecer.
Segurei firme minha bolsa e sai de lá nos saltos. Tinha certeza que a partir daquele momento, eu não teria mais nenhum problema. No dia seguinte, na volta do emprego lá vem eu, bela e formosa tendo a certeza que nunca ninguém daquele prédio mexeria comigo. Ledo engano.
De novo vieram as provocações. De novo aquele velho safado mexeu comigo.
Cheguei em casa louca da vida e chorando. Logo meu marido perguntou o que tinha acontecido ai finalmente contei-lhe toda história. Ele ficou muito nervoso. Foi para o quarto colocar uma roupa e disse:
- Vamos resolver isso agora!
Fiquei toda orgulhosa. Esperei meu marido se trocar e fui com ele. Eu só não sabia que ele tinha pegado seu revólver.
Ele suava frio. Chegamos à frente do prédio e a provocações começaram dessa vez de forma tímida. Na frente do prédio, meu marido chamou o tal do senhor Francisco que saiu da guarita meio tímido e com medo.
- Velho safado! Então é o senhor que mexe com minha mulher todo dia? Pois saia pra cá se você for homem. Claro que a gritaria atraiu uma porção de curiosos. Eu só via as cabeças aparecerem na sacada dos apartamentos.
- Senho eu nunca mexi com sua esposa. Vejo ela passar por aqui todos os dias, mas nunca mexi com ela.
- Velho sem vergonha. Assuma! Diga a verdade, seja homem.
- Sou avô, sou viúvo. Jamais mexeria com a senhora sua esposa.
- Pois eu vou mostrar pra você como um homem age quando mexem com a sua mulher!
E derrepente meu marido estava com a arma em punho apontando para aquele senhor desprotegido. Quando percebi que não ia dar certo eu tentei remediar:
- Marido me ouça o susto já valeu. Ele não vai mais mexer comigo. Vamos para casa.
- Não Madalena, esse senhora vai ter que pedir desculpas pra você. Isso não pode ficar assim! Onde é que nós estamos? Venha cá e peça desculpas,
Nisso a síndica já estava aos gritos, os moradores também, carros tentando entrar no prédio, gente querendo sair. O fuzuê estava armado. Foi quando chegou duas viaturas de polícia. Algum morador devia ter chamado. Eles já saíram com as armas em punho pedindo para meu marido largar a arma. Logo foram chegando mais carros de polícia, helicóptero e até reportagem da televisão. Esses canais sensacionalistas.
- Senhor largue a arma e vamos conversar.
Meu marido olhou todos aqueles carros de polícia e percebeu que o negócio tinha ficado sério. Nessa altura eu já me tinha me arrependido e chorava abraçada ao meu marido. Implorava para ele largar a arma.
Ele se abaixou e colocou a arma no chão. Os policiais se aproximaram e o prenderam. Todos nós fomos para a delegacia.
Eu, meu marido algemado, a sindica, o senhor Francisco e algumas testemunhas.
Na frente do delegado eu contei toda a história e ele me disse:
- Senhora Madalena, me explique como é que o senhor Francisco aqui assediava a senhora.
- Todos os dias quando chego do trabalho passo em frente ao prédio onde esse senhor trabalha e conforme eu vou passando ele vai acendendo as luzes. Como se eu estivesse numa passarela. Vou andando e ele acendendo uma luz por vez.
Nesse momento houve um grande silêncio. Todos se olharam e vi meu marido num canto ficando vermelho e devagar se escondendo, se abaixando. A síndica chamou o delegado e o advogado do condomínio e pediu licença. Eu não sabia o que estava acontecendo. Não era possível que mais uma vez a justiça iria falhar. A vítima sou eu.
Depois de cinco minutos, volta o delegado rindo, o advogado rindo ainda mais e a síndica que me olhou com dó.
- Sra. Madalena, posso afirma que tudo isso é um engano. Senhor Francisco aqui nunca mexeu com a senhora.
- Ele mexe sim. Todos os dias eu vou passando e ele acendendo as luzes. Doutor sou uma mulher de família. Sou casada, trabalho, tenho dois filhos. Não posso aceitar isso.
- Senhora Madalena a senhora nunca ouviu em falar em sensor de presença?
- Não senho!
- É um sistema de segurança que funciona com sensores. No caso do prédio onde esse senhor trabalha o que existe são sensores de movimento. Quando esse sensor identifica um movimento na calçada, ele acende uma luz indicando que aquele lugar está protegido. Isso só acontece a noite. Não era o senhor Francisco que acendia as luzes. O sensor ao perceber sua presença, fazia com que as luzes acendessem. Uma proteção. Segurança.
Eu não sabia onde enfiava minha cara. Sai de lá sem cor e ainda por cima meu marido com um processo por porte ilegal de arma. Eu não passava mais na frente do prédio, nem no outro lado da calçada. Meu marido até hoje não fala comigo.
Depois de um tempo, tivemos que por vergonha vender nossa casa e se mudar de lá.
Sensores de movimento. Por que não me avisaram antes.


sexta-feira, 5 de março de 2010

DONA CATARINA

Dona Catarina era uma dessas coroas cinquentona que passava a perna em muita menina de 20 anos. Loira de cabelos lisos, seios avantajados, abusava dos decotes e sempre com as belas pernas de fora. Mal o dia começava e lá ia Catarina como gostava de ser chamada, na padaria. Sempre elegante em cima dos seus tamancos de madeira, nunca se viu Catarina sem maquiagem, sem perfume, sem sua saia jeans e suas blusas gentilmente decotadas. Apesar da aparência apelativa, Catarina era uma mulher que não permitia saliências. Era discreta. Viuva e mãe de duas meninas já criadas e morando no exterior, se dava ao luxo de sexta-feira a noite ir ao baile da terceira idade. dançarina de primeira, ainda causava ciúmes nas outras mulheres. Pela exuberância, pela simpatia, por dançar bem. Os homens queriam dançar a todo custo com ela. Catarina não queria saber. Seu coração e pensamento estavam voltados para o Carteiro Seu Juarez. Um solteiro convicto, religioso com 45 anos ainda morava com a sua mãe Dona Isaura. Mulher de hábitos rigorosos. Ia rigorosamente na missa todos os dias e era amississíma de Catarina que por sua vez, arrastava um caminhão pelo seu filho.
Todas as terças e quintas feiras que ela sabia que Juarez passava para entregar as cartas, posicionava-se na janela exibindo o belo par de tetas. Juarez sério que era, mal se continha. As bocas daquela pequena cidade falavam que ele ainda era virgem. Assim que via Catatina na janela, começava a suar. Um dia, sem querer ou querendo, torceu o pé bem na porta da casa de Catarina que prontamente se ofereceu para ajudá-lo convidando para entrar. Acomodou-o confortavelmente na poltrona, tirou-lhe as botas e num gostoso escaldapé, massegou-lhe os pés. Ela sentava em um banquinho à sua frente, deixava aberta a visão dos seios. Juarez não sabia se olhava os seios, se relaxava na massagem ou se aproveitava dormir. Dormiu.
Catarina secou-lhe gentimente os pés enquanto o marmanjo ressonava. Pé ante pé, foi até o quarto e pensou em algo que pudesse atraí-lo para lá. Colocou alguns fracos de remédio no chão, acendeu uns incensos do amor e começou a gritar. Juarez prontamente veio assustado e encontrou Catarina na cama gemendo de dor. Pernas à mostra e pés nus, apertava o tornozelo simulando uma queda:
- Juarez fui apanhar um remédio no guarda-roupa e acabei como você torcendo o tornozelo. Senta aqui e faz uma massagem pra mim!
- Dona Catarina, isso não é uma boa idéia.
- Vem Juarez, eu estou pedindo. Tá doendo demais. Vem, senta aqui. E apontou para a enorme cama. Juarez timido que era e plenamente obediente aos desejos das mulheres. Sentou e começou massagear o tornozelo de Catarina que já estava entregue. Devagar Juarez foi subindo as mãos pelas pernas e coxas de Catarina que baixinho suspirava de prazer. Sentia o suor escorrendo pelo rosto. Coração acelerado, respiração descontrolada não conseguia mais resistir e quando finalmente ia tocar o sexo voraz de Catarina, ouviu alguém batendo na porta de entrada. Pela força e pela voz rouca, pode perceber que era sua mãe:
- Catarina sua labisgoia, manda meu filho sai dai de dentro. Eu sei que ele está aí...
Juarez deu um pulo e caiu em cima de Catarina que o empurrou-o jogando-o no chão. Não sabiam o que faziam. Catarina tentou se recompor e jogou Juarez para dentro do banheiro, ligou o chuveiro, tirou a roupa e começou a tomar banho. Juarez olhava tudo sem piscar. Viu pela primeira o belo corpo de Catarina. A pele branca, as curvas bem torneadas, joelhos, sexo, seios de bicos rosados. Estava paralisado enquanto ouvia sua mãe bater desesperada na porta. Dona Isaura conhecia bem as investidas de Catarina. Na verdade a cidade toda sabia...
Catarina paciente enrolou-se em uma toalha branca e saiu. Cabelos molhados, água ainda escorrendo. Foi até a sala abriu a porta e começou a falar com Isaura:
- O que você quer? Seu filho não está aqui e se tivesse seria bom demais. Ele é adulto já Isaura.
- Você para de dar em cima do meu filho. Eu sei que ele está aí sim. Dona Filomena da paróquia viu ele entrando na sua casa!
- Aquela mulher é louca e gaga além de ser cega.
- Pois me deixa entrar. Juarez, Juarez meu filho.
Catarina tinha esquecido das botas e a da sacola do Juarez. Quando Dona Isaura olhou para dentro logo reconheceu as botas do filho. Empurrou Catarina com força e entrou.
- O que é isso daqui Catarina? Você agora calça 43 e é carteira?
Dona Isaura descontrolada entrou casa adentro e encontrou o filho paralisado no banheiro.
- Meu filho o que essa mulher fez com você meu filho!?
...

quinta-feira, 4 de março de 2010

OLHARES

A idade chegou.
Querendo ou não a idade chega. Chega para mostrar se melhoramos, se aprendemos ou não...
Eu aprendi muito... Aprendi a decifrar gestos e olhares.
Estávamos começando na mesma empresa. Turmas diferentes. Ela uma menina. Eu um homem. Meninas nunca me atraíram. Nunca me chamaram a atenção. Sempre pensei que meninas mais novas eram chaves de cadeia. Mas ela passava por mim e seus olhos mergulhavam nos meus. Era algo assim muito rápido. Ela olhava e não sustentava o olhar. Diferente de mim. Sempre olhei firme e nunca desviei meus olhos. Ela passava e olhava e saia. Passava olhava e saia.
Sempre fui um homem discreto. Jamais dei chance para que pudesse levar um fora de alguma menina ou mulher. Nunca dei minha cara a tapa. Sempre busquei certezas antes de me arriscar. Com aquela menina não seria diferente. Uma coisa eu aprendi e não esqueço, mulher é algo imprevísivel. Quando você pensa que tem ela sobre seus domínios e ela que está te dominando.
Como sempre, não faria nada até ter a certeza. O que eu fazia, era me aproximar, cercar sem contato. Ela passava e olhava no fundo dos meus olhos. Não posso dizer que ela era uma mulher bonita. Deveria ter entre 19 e 20 anos. Não era uma mulher ainda. Uma menina crescida. Mas a maneira como ela me olhava me deixa nervoso e sem graça. Fui cercando, cercando até que um dia nos esbarramos no corredor. Foi inevitável o contato. Ela me olhou, sorriu e pediu desculpas. Disse que andava meio distraída. Eu me fiz de rogado e disse que a culpa era minha.
- Tenho visto você sempre sozinha, não tem amigos aqui na empresa?
- Ah sou nova aqui e ainda não me enturmei. Mas sempre te vejo sozinho também.
- Não sou de me enturmar. Gosto de ficar mais na minha. Olhar, observar...
- Hum... Entendi... Bem então não vou tomar seu tempo. Vou deixar você observar mais.
- Estou indo tomar um café! Você quer?
Ela aceitou prontamente.
Fomos caminhando e eu pude olhar cada vez mais para aquela menina. O rosto é angelical. Tinha a pele branca. Os cabelos eram bem cacheados e negros. Tinha os lábios bem torneados. Olhos envolventes...
- Quantos anos você tem?
- 25 anos.
- Mesmo? Parece tão menina. Pensei que tivesse uns dezenove anos.
- Não. Já fui noiva, engravidei, abortei... Tenho uma história já.
- Ninguém diz isso olhando pra você.
- Como dizem; as aparências enganam.
Assim começamos uma amizade. Almoçávamos juntos, café juntos, saíamos juntos. O que era simples, começou a ficar inevitável. Devagar foi-se criando a necessidade de estar e aquela que para mim era uma menina foi se transformando em uma mulher. Uma mulher madura e vivida. Vi isso em seus olhos e quis me enganar. O jogo de sedução foi ficando mais forte, fomos devagar nos envolvendo. Sabendo cada vez mais um do outro. Ela me fazia voltar a ser um garoto... Começou a se transformar em uma linda mulher...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DUAS VIDAS

Meu nome é Manuela, tenho 32 anos, solteira, não tenho filhos, não tenho marido, namorado, não tenho na verdade ninguém. Moro sozinha em um apartamento de um bairro classe média. Vigésimo terceiro andar. Tenho a sensação que o mundo é bem menor do que parece. Da sacada do apartamento consigo dimensionar o quão insignificante somos. Trabalho em uma multi nacional, como secretária executiva. Tenho meu carro, meu apartamento e uma família destroçada. Mãe com problemas psicológicos, pai alcolatra e irmãos que não fazem nada. Eu também não faço nada diante do que deveria fazer. Resolvi abrir deles e viver minha vida. Cansei de ser a filha mais velhas. Cada um que cuide da sua vida. Mando dinheiro todo mês e eles que se virem. Eu cuido de mim. Sou crítica, metódica, organizada, limpa. Não conseguiria viver em meio a gatos, cachorros, abandono. Sempre fui independente. Estudei muito, trabalhei duro. Nunca pedi nada para ninguém. Sou bem resolvida. Não preciso desse amor de hoje em dia. Tenho o homem que eu quiser e a hora que eu quiser. Não quero ninguém na minha cama por mais de uma noite. Detesto acordar e ver roupas jogadas, banheiro molhado. Gosto de ordem. Sexo é apenas uma maneira de aliviar a tensão e o estresse. Não sou santa. Não combina. Santas e cama não combinam.
Naquela manhã de Outubro acordei tarde. Sábado nublado. Fiz uma hora de esteira, tomei meu banho e sai para tomar meu café de rotina na padaria que ficava a uma quadra do prédio onde eu morava. Eram poucos passos, Chegava, pedia meu café, sentava e ficava olhando o movimento das madames com seus cachorros. Não entendia como uma pessoa saia com seu cachorro e ficava em seguida recolhendo suas fezes. Não combinava com animais. Não conseguia me ver abaixando e recolhendo dejetos de um cão. Meu telefone tocou. Pelo identificar vi que era da casa dos meus pais. Eles moravam em uma cidade vizinha. Uma hora indo de carro. Era um dos meus irmãos dizendo que meu pai estava internado em coma. Havia bebido demais. Caiu e bateu a cabeça. Seu estado era grave. Eu não queria me envolver. Desde pequena nunca me envolvi. Fazia o que tinha que fazer e nada mais me interessava. Quando era apenas eu, meu pai e minha mãe tudo estava bem, mas depois que meus irmãos gêmeos nasceram, nada mais era para mim. Eu era criança, eu não entendia e eles não me fizeram entender. Cresci com a magoa do desprezo. Vi minha mãe se acabar por causa do vício do meu pai que começou a beber assim que perdeu um emprego de mais de vinte anos. Gastou o dinheiro em jogos, mulheres e bebida. Foi ai que percebi que minha família não era a dos sonhos e que eu precisava cuidar da minha vida. Mesmo diante de tudo isso, não podia deixar meu pai em um hospital qualquer. Peguei meu carro e fui ver meu pai. Chovia e eu era uma dessas pessoas que não gostava de dirigir com chuva. A estrada era horrível e numa dessas curvas, capotei com o carro...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

ARREPENDIMENTOS

Ninguém na sua mais perfeita consciência, entra em um relacionamento para perder ou para viver apenas alguns momentos de felicidade. A felicidade de um relacionamento não é algo do dia para a noite. Leva tempo.
Quando entrei naquele relacionamento, eu sabia que só tinha a perder e que era um relacionamento com prazo de validade. Dia para começar e hora para terminar. E eu perdi. Minha paz. Ela era jovem, bonita, inteligente, independente. Tipo mulher que sabe o que quer e ela sabia. Nos conhecemos por acaso. Coisa de destino. Eu estava bem. Trabalhava, estudava. Tinha família e os amava. Ela morava só num apartamento na Frei Caneca. Perto da faculdade. Eu estava na entrada da faculdade e ela passou. Irresistível. Parecia mesmo uma caçadora. Conhecia suas presas. Sabia da sua beleza e do seu poder de sedução e eu me achando o mais bam-bam-bam de todos cai no jogo. Entrei de besta. Mesmo sabendo qual seria o resultado no final. Ela passou por mim e lançou um olhar que me atravessou a alma. Depois o perfume que me deixou petrificado. Eu queria saber mais. Precisava. Ela era a caçadora e eu a isca. Ela andava devagar. Ancas largas. Calça branca, salto alto. A blusa de um tecido esvoaçante, deixava o ombro a mostra. Um rosa leve. O sutiã era da mesma cor da blusa. Percebi pela alça exposta. Caminhar leve. Parecia estar desfilando. Os cabelos eram na altura do ombro. Negros e levemente ondulados. A bolsa era de grife apesar de eu não conhecer nenhuma. Por favor não me pergunte a cor. Sou péssimo para isso. Ela entrou em uma lanchonete e eu entrei atrás. Me posicionei perto. Não queria perder nenhum gesto. Queria olhar de novo para aquele rosto. Ela não poderia ter mais de 25 anos. Deveria ser estudante também. Percebi o pedido. Uma garrafa de água. Sentou-se, abriu a bolsa, tirou o celular e um maço de cigarros. Acendeu sem cerimonia e deu uma leve tragada. Eu ali, perdendo aula, viajando no que poderia acontecer. Já imaginava ela numa cama bem macia, me envolvendo com seus beijos, com seu corpo. Percebi que ela tinha seios volumosos. Tudo isso me deixou ainda mais euforico. Parecia um bobo. Pedi um refrigerante e fiquei disfarçando sem ter coragem para um abordagem. Nunca fui bom com essas coisas. Se dependesse de mim, iríamos ficar alí. A lanchonete era na verdade um café. Tinha muitos livros, cds, música, espaço para bate papo, leitura, video. Algo bem confortável. Com os olhos dei uma volta pelo local e pude ver o tipo de pessoas que frequentavam aquele espaço. Eram pessoas bem descoladas. Senhores que liam jornais. Mulheres com amigas degustavam um café. Fiquei distraído e quando dei por mim, ela me olhava. Parecia que lia meus pensamentos. Soltou um leve sorriso e me chamou com dedo. Algo do tipo: vem aqui vem. Senti meu rosto pegar fogo. Levantei e fui até ela, totalmente sem graça.
- Olá, sente-se. Você estava na porta da faculdade não estava?
- Estava sim. Está muito quente e como não tenho a primeira aula vim tomar um refrigerante.
- Ah que pena! Pensei que você tinha vindo atrás de mim.
Naquele instante eu já não tinha mais como fugir.
- Para ser sincero eu vim sim atrás de você. Mas não me pergunte porque!
- Eu sei porque. Você quer me comer? Tá cheio de tesão.
- Não. Imagina. Achei você muito bonita, achei que...
- Achou que poderia encontrar em mim uma mulher para saciar seus desejos... Sabe, eu também de gostei de você. Quando passei e te vi alí parado eu disse para mim - esse homem eu levaria para a cama. Quando vi que veio atrás de mim, fiquei molhada.
- Nem sei o que dizer.
- Apenas diz no meu ouvido que você quer me comer!
E me puxou pela camisa me levando bem perto do seu ouvido. Eu sem pensar disse:
- Eu quero comer você!
Ela levantou, pegou pela minha mão, esperou que eu pagasse pela água e pelo refrigerante e me levou para fora. Deu sinal para um táxi e me jogou dentro. Indicou ao motorista um hotel alí na região mesmo. Eu não pensava em nada. Estava excitado. Ela me beijava, colocava a mão em minhas coxas, acariciava meu peito. Eu podia sentir aquela mulher em minhas mãos. O seu perfume, seu hálito, seu calor. Ela conduzia-me da forma que bem entendia. O táxi parou e descemos. Paguei pelo táxi. Na portaria ela comprimentou o porteiro, pegou a chave e me levou até o elevador. A porta abriu e eu não pensava mais em nada. Queria apenas comer aquela mulher. Fomos para o décimo segundo andar. A porta do apartamento se abriu e pude ver um pouco da sua intimidade. Era com certeza um flat. Quarto, sala e banheiro. Tudo bem arrumado. Ela não queria saber de nada. Foi tirando a roupa e mostrando a belo corpo. Seios fartos e firmes. Uma pele de veludo e um olhar de quem realmente sabia o que queria. Ficou apenas de calcinha e salto alto. Tinha tatuagens pelo corpo, piercing no umbigo. Unhas longas. Me puxou para o quarto e disse:
- Você quer me comer quer?
- Quero!
- Então diz, diz que quer me comer?
- Eu quero comer você...
(continua)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

SOLIDÃO

A solidão foi comendo tudo que havia em mim.
Já não conseguia pensar direito e o que via, eram sombras. Sombras de tudo o que vivi.
Havia culpa demais em mim. Nada do que eu fizesse ou do que tentasse fazer, diminuiria aquela sensação. Eu estava sozinho. Muitas vezes eu chorava nas tantas noites que não conseguia dormir. Eu sabia. Eu sempre soube.
Ainda restava o prazer do abraços vazios dos meus filhos. Uns eram pequenos e não me condenavam. Os outros já me conheciam um pouco melhor.
Aos poucos fui morrendo sem perceber. Já não tinha ânimo para mais nada. O trabalho era a única forma que havia de esquecer por um momento. A solidão corroía meu eu. Estava tudo estampado em mim. Tatuado em minha alma. Fui definhando. Comia mal, dormia pouco. Tentava disfarçar e viver. Mas sentia a vida fugindo de mim.
Meus pais estavam distantes. Amigos eram nenhum. Família duas desfeitas. Morando numa casa fria, sem vida. Nada mais me dava alegria. Tentei remediar, consertar, mas algo ainda queimava em mim. As ruas sempre sem ninguém. Avenidas, vielas, becos.
A solidão fez de mim escravo. Tirou toda a cor do meu dia. Me condenou a vagar por aí. E vago por ai. Rastejando, comendo o resto que me é de direito. A mesa sempre vazia. A cama sempre fria.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PRA BEM LONGE*

Ele estava prestes a desistir de tudo. Não havia mais nada que o fizesse ficar.
O amor que sentia já não era mais suficiente. Precisava desesperadamente de um novo lugar. Um lugar onde não cenhecesse ninguém. Onde pudesse andar despreocupado. No fundo, ele sabia que não havia um lugar onde ele pudesse esquecer tudo. Podia mudar para o fim do mundo que seus problemas iriam acompanhá-lo.
Tudo estava dentro de sua cabeça. Ele já não conseguia pensar em uma saída. Queria apenas se livrar de tudo. Da roupa apertada, das palavras tão pesadas e cheias de cobranças. Até sua esposa que fora sua companheira para tudo, também já não o agradava mais. Os filhos, a casa, a empresa, amigos.
Ele perdera mesmo a vontade de fazer acontecer. Ele era um guerreiro cansado. Um guerreiro que volta da guerra pior. Cheio de problemas, cheio de cicatrizes. Às vezes era pego em viagens. O olhar ficava parado e mesmo que o chamassem, ele permanecia ali, em transe.
Um dia, acordou decidido a mudar tudo.
Colocou seu jeans, o tênis que havia ganhado da mulher, a camisa que havia ganhado dos filhos. Deixou objetos pessoais. Nada que o pudesse identificar. A mulher ainda dormia, os filhos também. Como era hábito ele acordar cedo, não houve suspeitas e nem alguma desconfiança. Desceu para a cozinha, bebeu quase um litro de água, pegou apenas o dinheiro que havia na carteira, cerca de duzentos e trinta reais e saiu de casa. Saiu andando a esmo. Nada se passava por sua cabeça. Não havia pensamentos. Não havia mais aquela angústia, nem mais aquele tormento. Andava apressado como se quisesse mesmo fugir de suas sombras. Andava como se quisesse deixar para trás todos os seus desamores e desafetos. Foi para o metrô, depois para a rodoviária. Olhava para tudo e tudo era vazio. Buscava um lugar para onde pudesse ir. Passou por todas as bilheterias e não encontrou destino certo. Estava com pouco dinheiro. Descobriu um lugar em Goiás. Preço da passagem duzentos e quinze reais. Era longe o suficiente. Mais de mil quilometros de distância. O ônibus faria o percurso em quinze horas de viagem. Embarcou com a maior tranquilidade. Estava sereno. Sentou-se no lugar marcado. Lado esquerdo, poltrona vinte e sete, na janela. Fazia calor. Abriu a janela e começou a ver tudo sendo deixado para trás.
No ônibus, poucas pessoas. A estrada era longa. Carros e mais carros. Fumaça, poluição. O céu queria ficar azul mas não conseguia.
Devagar ele foi se desligando de tudo. Uma espécie de amnésia. Não queria pensar em nada que fizesse com que se arrependesse, em nada que o fizesse voltar. As janelas abertas e o vento davam uma sensação de liberdade. Sentiu o estômago vazio. Lembrou que estava apenas com um copo de água. Iria esperar a parada para comer alguma coisa. Tinha apenas quinze reais para mais de quinze horas de viagem. Não queria se preocupar com isso. Queria colocar sua fé a prova. Sua crença. A primeira parada demorou. Estava exausto. Suado. Foi até o banheiro lavar o rosto e as mãos. Tudo estava muito sujo. Não havia sabonete e nem papel para secar as mãos. O espelho estava em pedaços. Não queria se olhar e ver seu rosto. Queria esquecer sua fisionomia. Esquecer tudo. Foi para o restaurante. Olhou tudo. Não queria gastar o pouco dinheiro que tinha. Comprou uma garrafa grande de água e um pacote de bolacha salgada. Voltou para o ônibus e continuou sua viagem. Não tinha noção de onde estava e nem que horas eram. Adormeceu...
A tarde foi caindo mansamente e bem no início da noite o ônibus fez mais uma parada.
O lugar parecia o sertão. Não havia nada perto. Apenas caminhões carregados que iam e vinham. Havia muita poeira e muita sujeira. Fui de novo ao banheiro. Não havia uma torneira intacta. Os vasos entupidos causaram ânsia. Saiu de lá enjoado. A fome apertou mais. Tinha ainda um pouco de dinheiro. No restaurante havia algumas pessoas jantando. Viu o preço e resolveu jantar. Comeu apressado pois logo o ônibus sairia. O prato tinha carne, batata, arroz e feijão. Pelo jeito tudo feito às pressas para atender as pessoas que passavam por lá..
Comeu e pediu para que enchessem a garrafa com água.
Voltou para o ônibus, sentou e viu a noite clara de um céu estrelado.
Um céu como nunca havia visto. Estrelas brilhando. Todas juntas e uma lua tímida.
Pela primeira vez lembrou-se dos filhos. Das noites em que ficavam deitados no chão do quintal tentando contar as estrelas do céu.
Sentiu uma angústia, uma dor, um remorso. Viu nas estrelas o rosto dos seus filhos aflitos. Desesperados com o seu sumiço. O ônibus ia sair quando ele pediu para parar. Ele ia voltar. Voltar dali. Desceu desesperado e o ônibus partiu.
Foi em busca de um telefone. O único que havia estava quebrado. Ficou sem saber o que fazer. Num lugar distante, de noite, sem dinheiro, sem telefone. A angústia aumentou. Foi até o restaurante e pediu para usar o telefone. Não havia. Começou a entrar em uma espécie de paranóia. Começou a gritar, a ameaçar. O dono do restaurante junto com uns caminhoneiros o pegaram e jogaram-no para fora. Antes bateram muito nele. Socos, chutes, pontapés.
Saiu machucado. Ficou sentado no chão, sentia dor, sentia o sangue escorrer.
Depois de tudo fechado, altas horas da madrugada, ele estava deitado no chão cru quando Teresa se aproximou com um pouco de água e um pouco de comida. Não falaram nada. Apenas se olharam. Ele comeu e bebeu. Ela ajudou ele a levantar e devagar caminharam.
- Perto de casa tem um telefone que funciona. Pode ligar de lá!
- Obrigado.
- O que foi que deu em você? Querer brigar, gritar, quebrar as coisas!!!
- Desespero!
Continuaram andando em silêncio. O sangue continuava escorrendo. Tentou dizer alguma coisa mas não aguentou e caiu, desfalecido... (Continua)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

VOZ DE DEUS*

Sempre levei uma vida dura. Vida de muito trabalho. Não acreditava em Deus e nem podia, diante da minha vida sofrida.
Naquele dia, sem saber o porque, minha mulher resolveu ir para a casa da mãe com meus quatro filhos. Eu não concordei muito, pois eu queria passar a noite de Ano Novo com meus filhos.
Mas, como a nossa situação era precária, aceitei. Porém, disse que não iria junto. Eu ia passar sozinho, dormindo. Comi um pedaço de frango que ganhei de um vizinho e bebi um pouco de tubaina. Fiquei olhando a chuva. Meu barraco ficava no pé do morro. Eu nem queria ver mais os fogos de final de ano. Era a mesma coisa que ver as pessoas queimando dinheiro. Comi e fui me deitar. Não sei se chovia mais dentro de casa ou do lado de fora. Fiquei por um bom tempo ouvindo o barulho da chuva nas telhas. Acabei dormindo.
Sonhei com meus filhos. Estávamos reunidos em torno de uma mesa farta. Todos vestidos de branco. Minha mulher, como sempre, sorria muito. Meus filhos estavam felizes. Comiam e bebiam. No meu sonho eu não me via, mas sentia uma enorme paz e alegria. Depois da ceia fiquei sentado à mesa e vi meus filhos correndo pela casa, brincando. Todos foram para a varanda olhar a queima de fogos. O céu estava claro, iluminado por uma lua linda. Foi então que escutei minha mulher me chamar. Sua voz era nítida e forte. Chamava-me para ver os fogos. Queria que eu estivesse junto na virada do ano. Acordei com uma voz me chamando do lado de fora do meu barraco. Chamava meu nome. Chamava sem parar. Parecia desesperada. Coloquei a camisa e saí. Não havia ninguém. Cada vez mais ouvia claramente a voz me chamar. Logo que saí para o quintal, os fogos começaram a clarear o céu. Chovia muito. Eu fiquei ali sem saber o que fazer. Olhei para o céu iluminado e foi então que escutei um estrondo e vi meu barraco ser engolido pela terra que deslizou do morro. Fiquei ali, vendo a terra destruir o pouco que eu tinha.
Ajoelhei e agradeci pelos meus filhos que não estavam ali. Chorei pela minha mulher e agradeci a voz de Deus que me tirou dali naquele exato momento.
Logo eu, que não acreditava em Deus, via-me agora de joelhos agradecendo pela vida.