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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

OLHOS FECHADOS*

Acabei de chegar do médico.
Fui levar o resultado dos exames pedidos.
A notícia me deixou um pouco abalado. Eu era portador de uma doença terminal. Tinha pouco tempo de vida. Como sempre, os médicos nunca conseguiam prever o tempo exato. Falavam em semanas, meses, podendo chegar a anos. Tudo dependeria da evolução dessa minha doença.
Eu sempre levei uma vida absolutamente normal. Sempre cuidei do meu corpo, da minha saúde, de como vivia a minha vida. Nunca fui de cometer excessos. Mas sempre ouvi que essa doença podia ser desencadeada por mágoas mal curadas e angústias mal resolvidas.
Confesso que saber que você tem poucos dias de vida, não é algo muito bom de se ouvir.
Saí do consultório sem chão. Como iria falar para minha mulher, para minha filha? Amigos eu não tinha mesmo então, não teria quem avisar. Minha mãe, irmãos, minha família. Doeu em meu peito a sensação de ter que abadonar todos. Eu me sentia bem demais. Sentia-me plenamente vivo. Havia vida demais em mim. Não poderia imaginar que meus olhos estariam para sempre fechados.
O sol brilhava muito mais. O vento refrescava minha pele. De certo modo me acalmava. As pessoas que passavam por mim estavam com seus rostos todos iluminados. Todos pareciam anjos. Ficava me perguntando como seria morrer... Como seria deixar tudo e as pessoas que realmente amo? Ano que vem faria 40 anos e sempre me disseram que a vida começa aos 40 e a minha ia terminar. Comecei a pensar em todos. Sentei em um banco de um shopping e comecei a escrever o nome de todas as pessoas que de algum modo eu deveria me desculpar. Queria viver esses meus últimos dias sem qualquer tipo de culpa. Falaria para minha mulher do amor que sinto por ela e pedir perdão pelas traições. Falaria do imenso amor que sinto por ela desde o dia em que a conheci. Abraçaria-a e ficaria por horas ali. Abraçaria minha filha também e falaria da vida. Do lado bom de viver e que ela cuidasse de tudo para mim e cuidasse da mamãe. Pensar na minha filha me fez chorar demais. Senti um nó na garganta e uma dor que me fez chorar. Chorei por horas. Algumas pessoas vieram falar comigo. Ficaram assustadas ao ver meu desespero. Dizia apenas que eu ia morrer. Tentavam me consolar em vão.
Fiquei lá até que não houvesse mais ninguém. Saí de lá arrastando meu corpo. A noite parecia acesa. Havia poucas pessoas na rua. O caminho até minha casa parecia interminável. No céu, as estrelas brilhavam como nunca. Tudo parecia de verdade mais intenso.
Cheguei em casa e minha mulher me esperava no portão. Parecia pressentir alguma coisa. Entramos e em nosso quarto contei tudo. Ficamos abraçados e senti a dor de suas lágrimas. Ela insistia em dizer que os médicos estavam errados. Disse que eu deveria fazer outros exames e que não deveria comentar com nossa filha antes de uma segunda opinião. Concordei e mesmo assim, disse que somente concordaria em fazer outros exames se ela junto comigo escrevesse cartas para as pessoas que estavam em minha relação.
No dia seguinte começaríamos a escrever as 10 cartas para as 10 pessoas que eu precisava pedir perdão. Se fosse confirmado nos outros exames a veracidade dos primeiros, entregaria pessoalmente a carta. Se não fosse confirmado o diagnóstico, as entregaria mesmo assim.
Fui tomar um banho. A água quente fez meu corpo relaxar e por um instante esquecer todo o peso daquele dia. Tudo vinha como um filme. Eu sabia bem o mal que me corria por dentro e quais eram as mágoas que tinham me causado aquele mal. Ali mesmo, no banheiro embaixo do chuveiro falei com Deus...

2 comentários:

  1. Muito bom...
    Esse seria um romance que nos faria refletir sobre a vida, sobre o nosso modo de viver a vida.
    Apenas por esse pequeno texto, já senti a necessidade de parar e repensar certas atitudes que deixei de tomar e, quem sabe, fariam um grande bem a mim mesma e às outras pessoas se as tomasse.
    Muito bom.

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  2. Oi Eduardo, não sei se vai gostar...
    Mas mesmo assim quero dizer que seu blog é viciante e que tem um selinho p/ vc no meu blog.
    http://deiaroos3.blogspot.com

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