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domingo, 29 de novembro de 2009

NADA RESTOU*

Quando ela o conheceu, estava entrando na casa dos dezesseis anos.
Renunciou a tudo e a todos para viver aquele sentimento, e assim o fez.
O tempo, como sempre, implacável e quando nos faz velhos, dá-nos a percepção que antes não tínhamos. Deixa nossos sentidos muito mais apurados e nos faz perceber detalhes que antes não percebíamos.
Por que, então, ela não abria suas asas para voar?
Por que ela ainda se prendia àquela história, se tudo já fora escrito?
Por que ela não rasgava seu peito e se entregava para o mundo?
Talvez o medo. Medo de ficar sozinha. Medo de não saber mais gostar de ninguém. Medo de voar e não ter mais um ninho para pousar.
Assim, passaram-se vinte e seis anos. Tempo de uma dedicação louca. Tempo de uma entrega absurda. Até mesmo uma renúncia tem o tempo certo.
Ela estava triste. Sem vontade de mais nada. Queria fugir para esquecer tudo. Queria voltar renovada para viver, agora, a felicidade que enfim havia encontrado.
Mergulhou de vez nos estudos. Entregou-se de coração.
Começou, enfim, a viver. Começou, enfim, a perceber que a vida não se resumia a um único sentimento. Além do mais, tudo aquilo que vivera, fora superficial demais. Olhava para trás e não via nada. Havia apenas uma estrada vazia. Apenas seus passos e nenhum mais.
Lembro-me uma vez, de uma conversa informal em que ela me confessou que seus sentimentos já não eram os mesmos. De uns tempos para cá, percebi que não eram mesmo.
Ninguém ama por obrigação. Amar assim, deixa de ser amor, deixa de valer à pena.
Agora só havia tristeza e dor. Dor, por acordar sem um carinho. Dor, por se sentir sozinha. Dor, por sentir que nada valeu.
Ela era uma bela mulher. Todos a viam forte e nunca enxergaram nela, a fragilidade, a doçura. Nunca estenderam a mão para socorrê-la. Quem a socorria nos momentos de aflição não está mais entre nós. Ela não conseguia gritar. Não conseguia dizer. Sentia-se pronta para viver sem coragem de bater as asas em busca da liberdade. O seu mundo não era mais o mesmo.
Agora, dois lados; o colorido e o branco e preto.
Queria amor. Amor de verdade. Sem as velhas obrigações. Sem se sentir obrigada a falar o que não tinha vontade. Nada mais a prendia. Sua cabeça fervia. Não queria mais escutar aquelas palavras já tão sem sentido. Não queria mais ouvir aqueles sons à noite. Queria deitar e dormir em paz. Queria apenas se sentir uma mulher de verdade. Sentia-se uma mulher sim, mas pela metade... Tinha asas e ainda muito medo de voar.

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