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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

IRREAL*

2 anos que decidi mudar de vida.
Estava cansado daquela vida de ter que levantar cedo todos os dias, pegar condução lotada, andar o dia todo de terno. Eu trabalhava em uma consultoria que ficava na região da avenida Paulista. Era um empresa nova e eu tinha total condições de fazer carreira. Mas eu vinha de uma rotina pesada. Estava cansado. Queria fazer algo que realmente me desse prazer. Algo que não fosse uma obrigação. Todos diziam eu tinha um dom e que deveria explorá-lo e foi o que decidi fazer. Depois de ter conversado com minha mulher, no dia seguinte pedi demissão.
Era muito bom estar em casa. Tinha acabado aquele tormento. Aquela cobrança louca de metas, relatórios, reuniões. Agora era eu por mim.
Tudo em paz. Podia acompanhar minha filha na escola, podia me dedicar inteiramente ao que mais amava. Não tinha mais chefe. Não tinha mais horário, mesmo assim seguia regras. Gostava de escrever todos os dias. Tanto que foram 7200 poesias em dois anos e 32 livros.
O tempo foi passando e eu fui perdendo o contato com a realidade. Mal saía de casa. Alguns dias não sabia se tinha sol ou não. Todos os meus contatos eram via msn. O telefone celular nunca mais tocou. Comecei a perceber que o contato com outras pessoas reais me fazia mal. Comecei a ficar intransigente, mal humorado, extremamente irritado e nervoso. Todas as pessoas foram se afastando. Vendia meus livros pela internet, despachava pelo correio e não havia mais contato com pessoas. Devagar fui perdendo o contato com a realidade. Lia as notícias via internet e deixava a televisão ligada o dia todo no noticiário e todas as notícias me corroíam. Eu nao fazia mais parte daquele contexto. Estava em outro mundo. Fazia parte agora de uma outra realidade. Minha visão estava diferente. A realidade que via fora do meu apartamento era outra. Achava as pessoas más, cruéis, prontas para qualquer coisa na intenção de passar por cima do outro. As pessoas, na minha visão, tinham perdido o senso do amor, da educação e da boa convivência. Todos andavam se empurrando, querendo se matar. Cada vez mais me afastava de tudo.
Minha mente trabalhava em média 17 horas por dia. Sempre pensando em novas idéias de livros. Em novas poesias. Novas histórias. Conversava com muitas pessoas, mas nada que uma tecla chamada Delete não resolvesse. Ainda tinha esse poder de sair rapidamente da vida das pessoas. Eram apenas rostos.
Foi aí que percebi que existiam dois de mim em mim. Eu era um, o homem que começou a sentir a falta do contato humano. Comecei a sentir a solidão de uma maneira pesada. As janelas fechadas começaram a me fazer mal. O ar rarefeito me fazia mal. Eu precisava sair dali. Daquele espaço pequeno e apertado. Por outro lado, existia o poeta, o escritor que amava aquela convivência limitada. Tudo servia de inspiração. Só pensava em agradar, em contagiar as pessoas com doses excessivas de amor e atenção. Tudo aquilo começou a tomar uma proporção sem limites. Eu só queria sair de lá. Queria deixar um pouco meu lado poeta sem deixar de ser poeta. A poesia está na minha pele, no meu sangue, no meu ar. Cansei da visão que as pessoas faziam a meu respeito, a respeito do poeta que perdeu o contato com a realidade.
Precisava sair de tudo. Deixar um pouco de lado toda essa loucura que tomou conta de mim...
Vou sair... Vou respirar... Ver um pouco de gente... Sentir o vento...
Quem sabe eu volte pra dizer como me sinto ou quem sabe nem volte mais...

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Concordo com a Andrea Roos...
    Tudo é uma questão de saber dosar.
    "A diferença entre o remédio e o veneno, está na dose."
    Aprenda a administrar o seu dia e o mais importante é reservar um momento para cuidar de você. Do seu corpo, da sua mente, da sua vida, independente do trabalho e de tudo à sua volta.
    É preciso buscar novos ares, até mesmo para novas inspirações.
    Metade do problema já está resolvido: conscientizar-se que algo precisa mudar ou melhorar.
    É só ir em frente. E nunca desistir.
    Seja feliz!

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