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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

INCOMPATIBILIDADE*

Lúcia é uma dessas mulheres que não sabem escutar um não.
Não consegue entender que o mundo é feito de milhares de pessoas. Ela precisa de uma atenção plenamente exclusiva. É justamente o que eu não posso dar. Com tudo isso, conseguimos chegar longe demais nessa amizade.
Sou um cara meio reservado. Não gosto de falar da minha vida, das minhas intimidades. Já Lúcia, adora dar satisfação de tudo aquilo que faz. Adora passar a tarde inteira falando de tudo e eu, como bom ouvinte fico a escutar. Paro o que estou fazendo para dar atenção.
De uns tempos para cá, comecei a me sentir sufocado por essa amizade. Me sentia invadido. Não havia mais limites. A coisa começou literalmente a descambar.
As palavras começaram a ficar agressivas. Havia ofensas, trocas e acusações. Era a incompatibilidade de tudo. De pensamentos, de gestos, de ações. Chegou um pouco que nada estava bom. Nada mais agradava.
A sensação de posse me sufoca. Não gosto de dedos em riste. Não gosto de coleiras guias. Não sou escravo dos meus sentimentos.
Lúcia queria ser única. Odiava dividir qualquer coisa que seja principalmente atenção. Ela fazia meus piores pontos serem despertados. Ela fazia minha parte pior, vir à tona. Ela fazia isso muito bem e sempre tinha em sua boca um bordão:
- Eu te conheço há muito tempo!
- Eu sei o que você pensa!
Ninguém conhece ninguém. Ninguém é capaz de saber o que o outro está pensamento. Isso é a liberdade que gosto de ter.
Você me pergunta se haviam pontos bons nessa mulher? Claro que sim. Lúcia é uma mulher extremamente caridosa, preocupada, disposta a fazer de tudo para que tudo desse certo para mim e para outras pessoas. Eu não conhecia muito bem. Conhecer no modo geral. Eu achava mas jamais cheguei a dizer. Quando tentava, não conseguia. Lúcia negava.
O mais engraçado de tudo isso é que eu e ela vivíamos o mesmo lado negro. A solidão. Para mim, estar sozinho faz parte do que decidi fazer, um modo de vida, meu ganha pão. Os amigos deixaram todos de ser reais para serem virtuais. Todos os meus contatos eram via computador. Jamais fui lembrado para um almoço, para um jantar, para uma viagem, um passeio. Lúcia ao contrário, tinha amigos reais, saia, viajava e era terrivelmente consumida pela solidão. Uma solidão diferente. Uma solidão cruel que a engolia e a massacrava. Uma solidão que a fez se apegar a um mundo que não era seu para sentir que valia a pena. Tudo isso, são apenas deduções de tudo o que senti nesses anos com essa minha amiga real e virtual. Lúcia parecia viver de mentiras. Seria com certeza uma ótima escritora.
Na verdade, eu não sei nem porque resolvi escrever isso nessa minha manhã. Talvez porque sinta de verdade que perdi uma pessoa querida. Mas não posso permitir mais palavras que deixem meu mundo em desarmonia. Na minha solidão, preciso de paz, preciso estar bem.
Lúcia continuará vivendo sua vida de encantos, de tardes no shopping, de manicure, massagem, ginástica. Ficará bem eu sei. Triste pode até ser verdade, mas o tempo se encarregará de cicatrizar qualquer magoa que tenha ficado. Quanto a mim, ficará sim o vazio que jamais será preenchido, mas também entrego ao tempo tudo isso. Ele é mestre e sabe conduzir tudo. Sabe acalmar as tempestades e fazer o sol voltar a brilhar.
Quem sabe um dia, eu e Lúcia poderemos nos encontrar melhores do que somos e rir de tudo isso ou quem sabe ainda não nos encontrarmos e mesmo assim temos a certeza que cada um nos seu jeito tentou ser e dar o melhor de si. Às vezes, não conseguimos...

Um comentário:

  1. Às vezes precisamos pesar o que realmente é bom ou não para nós.
    E também é preciso fazer uma escolha.
    Toda escolha requer uma renúncia... é um mal necessário.
    Devemos realmente analisar até que ponto algo ou alguém é prejudicial à nossa paz.
    Se não é mais possível conviver com as diferenças, então será preciso arrancá-las de nossa vida. Infelizmente, nesse caso, há de se fazer uma escolha doa a quem doer.
    Tudo pela paz!
    Seja feliz!

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