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domingo, 13 de dezembro de 2009

CONSCIÊNCIA*

Existem acontecimentos que passam em branco em nossa vida e outros que nos marcam definitivamente.
O que aconteceu comigo não passou, ficou, marcou e está presente todos os dias na minha vida.
Certa vez, logo que eu comprei meu primeiro carro, estava feliz, querendo mostrar o carro para todos os amigos e familiares. Eu tinha 22 anos. Sentia-me no auge. Saí com alguns amigos para comemorar. Ficamos em um bar até altas horas. Depois, fiquei responsável de levar cada um para sua casa e assim fiz.
Levei o Carlos para a Região de Santo Amaro, depois o Marcelo que morava na Região da Vila Mariana, a Claudia que morava na região das Perdizes e Roberta, na região central.
Deixei um por um em suas casas e depois fui para minha casa na região leste de São Paulo. Passavam das três e meia da manhã. As ruas estavam desertas.
Quando passava por uma avenida, vi uma mulher acenando.
Seu carro estava encostado no meio fio.
Os piscas alertas acessos. Parecia desesperada. Não pensei duas vezes. Encostei o carro, desci e fui em sua direção. Não podia imaginar o que poderia acontecer. Assim que me aproximei dela percebi que ela não estava sozinha. Dois homens surgiram detrás do seu carro com armas em punho e pediram a chave do meu carro. Não pude fazer nada. Fiquei sem meu carro.
Naquele momento, jurei que nunca mais pararia meu carro para dar assistência para alguém, fosse quem fosse.
Os anos passaram, fiquei muito tempo a pé juntando novamente dinheiro para comprar outro carro.
Trabalhava muitas horas por dia, não saía aos finais de semana, não viajava, não saía com amigos, não fazia nada. Queria minha liberdade novamente. Queria sentir a mesma emoção. Aprendi a não depender de ninguém e naquele momento, o carro me daria tudo o que eu precisava.
Tinha aprendido a lição.
Foram dois anos guardando dinheiro, sobrevivendo. Dois anos de negação a tudo. Não namorava, vivia apenas para o trabalho. Consegui comprar um carro melhor do que eu tinha antes.
Era maravilhosa aquela sensação. Ouvir o barulho do motor. A liberdade de ir a qualquer hora para qualquer lugar. Eu estava muito mais precavido.
Não ficava até tarde na rua, não havia mais esse papo de levar amigos para casa.
Não desviava meu caqminho. Tinha o carro para me servir.
Mas o destino nos coloca sempre entre a cruz e a espada.
Eu havia acabado de deixar um casal de amigos na estação do Metrô e estava indo para casa.
Já passava da meia noite.
Uma cena me chamou a atenção e remeteu-me de imediato ao que acontecera.
Um carro parado, pisca alerta acesso e uma mulher aparentemente grávida estava sentada no chão.
Diminui a velocidade e passei devagar por ela. Ela chorava e pedia pelo amor de Deus que eu a ajudasse. Não ajudei. Fiquei olhando pelo retrovisor e segui viagem. Aquela cena não saiu da minha cabeça. Dirigia atormentado com aquela incerteza. E se ela estivesse mesmo grávida e se ela estivesse mesmo precisando de ajuda?
Parei o carro em um posto de gasolina e liguei para o socorro. Informei o ocorrido e o endereço e fui informado que o socorro estava a caminho.
Dei meia volta e passei novamente no local onde estava aquela mulher. O carro continuava lá.
Outros carros haviam parado. Senti-me mais seguro e parei também. Ela estava na calçada e estava em trabalho de parto.
Escutei a sirene do carro de resgate. Prontamente começaram os procedimentos.
Aquela mulher se contorcia de dor e os paramédicos realizaram o parto ali mesmo.
Um homem também estava desesperado. Era o marido daquela mulher. Ele dizia aos policiais que o carro teve uma pane e ele saiu para pedir socorro pois estava levando sua mulher para o hospital. Na pressa, havia esquecido o celular e tudo mais. Quando chegou, encontrou sua mulher caída.
Ela dizia que um carro passou e que não quis parar para ajudá-la. Enquanto conversava com os policiais, os paramédicos disseram que não foi possível salvar a criança e que a mãe ia para o hospital mais perto pois estava com hemorragia. A ambulância saiu gritando rumo ao hospital.
Eu voltei para o meu carro. Estava abalado. Sem saber o que pensar, sem saber o que sentir. Fiquei pensando... E se eu tivesse parado e socorrido aquela mulher?
Não sei porque certas coisas acontecem em nossa vida... Até hoje não sei ao certo o que pensar...

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