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terça-feira, 15 de setembro de 2009

VERDADES*

Definitivamente, aquele não era seu dia de sorte. Se é que esse dia existia. Carlos chegou cedo na empresa de computadores e logo foi chamado pelo chefe. Haviam dado falta de um notebook. Ele era responsável pelo setor e era o único que ficava na empresa depois que todos iam embora.

Quando Carlos conheceu aquela garota, seu sexto sentido dizia que ela seria encrenca certa. Não quis escutar e se deixou envolver. Ela era linda. Dezoito anos. Sorriso envolvente, corpo sedutor. Jámais tinha feito sexo com uma mulher tão intensa como Priscila. No começo e como todo começo, tudo correu às mil maravilhas, até que numa noite de sábado, o telefone toca. Sem pensar, Priscila pede que Carlos vá ao seu encontro. Eram dez horas da noite. A família reunida saboreando uma pizza. Carlos era pai de duas moças. Uma de quinze anos e uma de 11 anos. Estava casado há mais de 20 anos. Claudia era uma mulher extremamente presente em tudo. Já haviam discutido sobre a mudança repentina de comportamento de Carlos. Ele andava aéreo. Não dava atenção direito para as filhas e nem para a esposa. Andava gastando demais com cartões de crédito. Logo ele que sempre andou corretamente com tudo.

- Quem era no telefone?

- Um cliente que está com problemas no computador e precisa de manutenção. É aqui perto. Vou e volto num pulo.

- Você vai sair agora?

- Preciso formatar o computador dele. É um cliente muito importante. Tem uma firma e sempre faz a manutenção com a gente. Ele ligou para os técnicos e não conseguiu falar com ninguém e como sempre atendo, ele me ligou.

Ela sabia que ele estava mentindo. Carlos não era de dar explicações. Ele também não era de sair de casa no sábado à noite para atender clientes em domicílio. Com o coração partido e com todas as dúvidas e inseguranças, Claudia consentiu. Viu Carlos se arrumando, pegando a chave do carro, abrindo a porta, despedindo-se com um beijo frio e seco...

Carlos estava nervoso.

Encontrou Priscila no mesmo lugar de sempre. Ela, para variar um pouco, estava totalmente exuberante. Seios quase à mostra, pernas expostas. Andava assim pelas ruas. Morava com uma avó depois que seus pais resolveram se separar. Disse que não iria ficar com nenhum dos dois e não ficou. Abandonou os estudos. Quando não estava trancada no seu quarto, estava com os amigos bebendo. Já havia sido detida algumas vezes por pequenos delitos. Abusa da avó. Sabia que sendo a única neta, tinha quase todos os seus pedidos atendidos. Priscila gostava de arriscar. Sempre.

- Já não pedi para você não me ligar em casa?

- Ah, meu amor, desculpa. Tava sozinha. Queria ver meu garanhão. Tô morrendo de vontade de você.

- Priscila, não posso demorar. Hoje é sábado, estão todos lá em casa. Minhas filhas, minha esposa. Não posso demorar.

- Tá bom. Vamos dar uma rapidinha. Eu aceito. Melhor que nada. Vamos, me leva pra algum lugar.

Carlos se sentia dominado por aquela menina. Ficava bobo, entregue, sem ação. Adorava sua vitalidade, sua energia, sempre disposta a tudo. Ela não tinha medo de nada e ele se sentia assim. Quando estava com ela esquecia tudo. Ria, divertia-se, falava, até planos fazia. Depois, quando voltava para casa, o mundo parecia ruir. Fizeram amor até amanhecer. Carlos não sabia o que ia dizer em casa. Não podia tomar banho e sua roupa estava com o cheiro daquela noite. Vestiu as roupas, deixou dinheiro para que ela fosse de táxi e o notebook que ela havia pedido de presente.

Saiu sem pensar em nada. Não conseguia pensar em mais nada. Fazia mais de 6 meses que estava naquela vida. Tudo estava uma grande bagunça. Seu casamento desmoronando, o trabalho cada vez pior e aquele menina que exercia um poder sobre ele. Decidiu que não voltaria para casa. Deixou o carro em uma rua qualquer e saiu caminhando. Não levou nada. Apenas a carteira. Parou em um bar. Abriu a carteira e viu a foto das filhas. Letícia e Gabriela. Lembrou da esposa e de tudo o que ela havia passado nesses anos todos. Viu-se encurralado. Sem perspectivas e sem caminho. Passou o domingo andando.

Definitivamente, aquele não era seu dia de sorte. Se é que esse dia existia. Carlos chegou cedo na empresa de computadores e logo foi chamado pelo chefe. Haviam dado falta de um notebook. Ele era responsável pelo setor e ele era o único que ficava na empresa depois que todos iam embora.

- O que aconteceu com você? Nunca vi você assim! Todo mal vestido, barba por fazer. Parece que não dormiu!

- Não sei o que aconteceu com o notebook. Vou ver se dei alguma saída errada.

- Carlos, além disso, há também um desfalque no caixa. Fechamos com dois mil na sexta feira. Hoje abrimos com mil reais a menos.

- Não sei o que dizer.

- Você foi o último a sair na sexta feira.

- Não consigo pensar. Aconteceram-me tantas coisas. Preciso comer alguma coisa, lavar o rosto e ligar para minha casa. Depois vejo o que houve.

- Carlos, tem gente aí te procurando.

Carlos olhou e viu a sua esposa entrando com a polícia. Ela chorava muito.

- Senhor Carlos, o senhor conhece Priscila Thomaz?

Olhou para a esposa. Sabia que havia acontecido alguma coisa. Não havia mais como mentir.

- Conheço sim.

- Ela foi encontrada morta no Hotel Alameda. O registro do hotel diz que o senhor esteve com ela. Preciso levá-lo até à delegacia. Foi encontrado esse notebook com ela e essa quantia em dinheiro. O senhor conhece esse computador? Tem o nome dessa empresa!

Carlos olhava para a esposa, olhava para o chefe e pensava nas filhas...

Um comentário:

  1. *Eu li VERDADES, bem reallidade do dia a dia, merece sim virar livro, gostei muito. Li AMOR MENDIGO, me emocionei e em muitos momentos me vi, me identifiquei como em: "As vezes penso em acabar com tudo...apagar amigos rasgar fotos , esconder-me para que ninguém me ache..." Merece virar livro(n.1) eu adoraria ler a continuação, o desfecho... se já tivesse pronto ia correr a livraria. Li também ALÍ, e acho tbm que deve virar livro apesar de não fazer meu genero de leitura. Você é um escritor de mão cheia, muiiiito talentoso. Falo como amadora e leitora, gosto demais de ler e me senti presa nos trs textos, li até o final, e nos dois primeiros fiquei com gostinho de quero mais, se o livro tivesse em minhas mãos não ia largá-los até terminar. Parabéns, quem é bom já nasce... Tenha um bom dia, abraços

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