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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

TERRA ESTRANHA*

Faz algum tempo que venho me afastando de tudo.
Afastando-me principalmente das pessoas.
Criei para mim um mundo, onde sou meu Deus, meu rei, meu escravo, minha prisão e minha liberdade. Cansei dessa mania que se criou de odiar livremente. Hoje as pessoas estão más. Basta um esbarrão e se ganha um inimigo. Se pudesse, as pessoas jogariam as outras nos trilhos do metrô só para poderem pegar seu lugar. Todos viraram inimigos.
Faz algum tempo que decidi viver sozinho, mesmo cercado de vizinhos e morando num bairro de mais de 500.000 pessoas, não conheço e não converso com ninguém. Mesmo assim, as pessoas me olham com aquele olhar de indiferença.
Do meu mundo, consigo ver melhor os absurdos. Consigo ter um discernimento melhor sobre como pensam as pessoas e olha, mesmo distante, assusto-me com o pensamento e atitudes de algumas pessoas.
Tenho sim alguns contatos virtuais. Falo sim com algumas pessoas que, ainda distantes, parecem ser reais. Percebi que não sou o único que vive numa terra estranha. Várias e várias pessoas sentem-se como eu, isoladas em ilhas e mundos distantes. Encontram-se casualmente para falar de nada e sempre com o dedo apontado para a tecla delete . Se disser algo que não condiz com a realidade que se criou, é só deletar. Cheguei a pensar que eu estava ficando louco por não querer mais contato com as pessoas, mas não sou.
Faz tempo que vivo com as cortinas fechadas. Não sei mais qual é a cor do dia. Às vezes, escuto a chuva, de vez em quando, um sobrevivente toca minha campainha para vender produtos para matar baratas. Os crentes não tocam mais, já sabem que não estou mais aqui. O mais interessante é saber que tudo está adaptado para quem vive como eu. O comércio entrega a compra que preciso. Os mercados funcionam 24hs por dia, posso pagar as contas pela internet, a locadora entrega e retira filmes em casa. O sexo está disponível em todos os canais e como sou casado, não me preocupo muito com isso. Quem sofre com isso é minha mulher, que precisa sair sozinha. Quase não viajamos mais. Não temos amigos, nem parentes que nos fazem visitas. Minha filha ainda vive no mundo exterior. Ainda sai para balada com os amigos, mas às vezes se recolhe e fica também sem querer ver ninguém. A maldade é algo muito aparente. As pessoas que ainda vivem soltas pela terra estranha vão se degladiando e desaparecendo.
Criei um mundo à parte, onde posso ficar como expectador assistindo a derrota do bem.
Quem é do bem, está escondido dentro da sua própria realidade.

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