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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SAUDADE*

Não sinto saudade.
Não sinto saudade de quem, de um jeito ou de outro, está perto de mim. Se sentir falta, ligo, viajo, envio um torpedo, acesso o msn, vou até ela. Saudades eu sinto de quem eu sei que nunca mais verei. Sinto saudade da minha sogra, já falecida, Dona Janete. Sinto saudade de um amigo que foi para o Japão, Carlos Massao e nunca mais nos falamos. Sinto saudade, por exemplo, da casa de Caraguatatuba. Ficava na praia das Palmeiras. Era bem simples, mas foi ali que passei os melhores dias da minha infância. Ela não existe mais. Foi demolida. Fizeram um enorme sobrado. Disso, tenho saudade.
Não sinto saudade da minha mãe. Sei que ela está bem. Sei onde ela mora, sei seu telefone e também sei que posso vê-la quando quiser. Posso falar com ela ao telefone. Posso ainda abraçá-la. Só não sinto saudade. Saudade é, para mim, uma palavra ingrata que faz sofrer duas vezes. Uma vez por lembrar e outra vez por não poder voltar.
Não sinto saudades.
Não adiantaria sentir. Não resolveria nada.
Seria bom sentir saudade e fazer voltar em um passe de mágica. Se pudesse, voltaria justamente na Praia das Palmeiras, lá em Caraguatatuba. Era bom demais. Meus melhores amigos estavam lá, meus melhores dias foram naquele lugar. Andava muito de bicicleta, pescava demais e vivia como um peixe no mar. Lá, aprendi a andar a cavalo, aprendi a amar o vento e conheci Iemanjá. Se sentisse saudade, doeria-me não poder voltar, mas gosto de me lembrar, de recordar sem sentir saudade.
Tenho uma amiga que diz que é impossível viver sem sentir saudade. Que só não sente saudade quem não tem um passado, quem não deixou nada para trás. Eu queria pensar da mesma maneira, mas não consigo. Defino a saudade como algo muito mais intenso, um sentimento muito profundo, íntimo, único... Um sentimento que nos remete às nossas mais profundas lembranças.
Não sinto saudades. Não gosto. Dói demais. Machuca.

2 comentários:

  1. Esse é um belo texto que remete ao passado, às boas lembranças, à uma doce nostalgia.
    Merece sim virar livro, quem sabe descrevendo cada passagem dos melhores dias da sua vida...
    Compraria com certeza!

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  2. Saudade,só quem nunca amou nunca sentiu.
    Um sentimento doído,mas também gostoso.
    Saudade de um grande amor, de um lugar, de alguém que se foi,de um momento fugaz.
    Ter saudade é amar.
    Escrever sobre esse sentimento contraditório para voce, com certeza renderá uma bela obra.
    Também compraria,com toda certeza!

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