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terça-feira, 11 de agosto de 2009

PERIFERIA*

Moro na periferia de São Paulo, há 23 kilômetros do Centro, extremo Leste da Capital Paulista. Um bairro com cerca de 500.000 habitantes. Pode-se dizer que é um bairro novo, no máximo vinte anos. Nasci aqui. Conheço cada pedra das ruas deste bairro. Posso dizer que já aprontei muito nessas ruas. Foi aqui que perdi a virgindade com uma colega de escola. Foi no apartamento dela. Os pais saíam para trabalhar e ela ficava sozinha. Incrível, que com apenas 16 anos, aquela menina, com carinha de inocente, conhecia muito sobre sexo. Além disso, fumava uma maconha que deixava muito marmanjo no chão. Como ela conseguia droga? Você já pode imaginar. Foi aí que também conheci o vício. Só que eu não podia fazer como ela. Tive que fazer meus corres pra conseguir meu baseado. Minha mãe pensava que eu ainda era criança. Sempre me dava dinheiro. Comi aquela mina uma porção de vezes. Até que um dia ela me disse que "tava" grávida e que o filho era meu. Brigamos muito. Chamei ela de todos os nomes. O que eu não sabia é que ela conhecia os "caras" da quebrada. Tomei minha primeira surra. Fui parar no hospital. Não tinha saída. Ou assumia aquela criança ou eu tinha que sair de lá, fugido. Acabei indo morar com ela no apartamento dos seus pais. Mesmo grávida, ela continuava queimando um baseado e eu ia junto. Fumávamos o dia todo. Agora, eu que arrumava o baseado. Ia roubar os "forgado" do shopping. Sempre dava jeito de voltar com um celular, com uma máquina digital, com dinheiro. Fui preso pela primeira vez com dezessete anos. Fiquei ainda mais na paranóia. Eu era menor e sabia que ia sair de lá rápido. Quando saí, cheguei em casa e vi a minha mina fazendo um boquete pra outro mano meu. Subiu o sangue. Saí pra comprar um cano. Ia matar aquela vagabunda e aquele cusão. Não consegui comprar o berro. Voltei pra casa depois de duas semanas. Andei por duas semanas feito louco pelas ruas. Dormi em bancos, conheci ainda outros nóias. Roubei pra poder comer.
Quando cheguei em casa, parecia um mendigo. Ela me falou um monte. Disse que fez o que fez porque eu tava preso e ela precisava fumar. Sempre fazia isso. Eu não disse nada.
No dia que completei 18 anos anos, meu filho nasceu. Era o maior presente. Queria levar uma vida descente. Tentei arrumar emprego. Comecei ser ajudante na feira. Acordava 4 horas da manhã pra carregar o caminhão e depois ia montar a banca na feira. Trabalhava de terça a domingo. Segunda feira jogava futebol. O moleque tava lindo. Não tinha nenhum problema. O moleque era de aço. Mas eu sabia que a maconha tava no seu sangue. Andava com o moleque pra baixo e pra cima. Sempre que dava, comprava um presentinho pra ele. Leite não faltava.
Na feira de quarta-feira, conheci uma mulher que me chamou a atenção. Marcamos de nos encontrar depois da feira. Fui pra sua casa. Tava cheio de tesão. Ela também queimava uma. Logo que entrei, ela já foi tirando minha roupa. Eu não sabia que tava comendo a mulher de um investigador de polícia. Ele descobriu. Mandou a mulher embora e veio atrás de mim. Tratei de comprar um três oitão pra me defender. O que eu podia fazer se foi ela que quis dar pra mim. O cara veio com sangue nos olhos. Invadiu o apartamento e sem perguntar me pegou e me jogou no camburão. Vi meu filho chorando e minha mulher sem palavras.
Andei naquele carro mais de duas horas. Eu sabia que eu ia morrer.
Quando abriram a porta do carro, vi que estava no meio de um matagal. Levei minha segunda surra. Fiquei jogado no meio do mato por dois dias. Largaram-me lá pra eu morrer. Continuava algemado e sangrando muito. Pensava apenas no meu filho. Acordei no hospital...
Estava na cama. Vi minha mãe, minha mulher, só não vi meu filho... Todo mundo chorava. Fiquei sabendo que a polícia revirou o apartamento e encontrou a arma e a droga. O conselho tutelar levou meu filho. Não disse nada, apenas chorei. Senti o sangue nos olhos. Pra mim não restava mais nada. Tiraram o melhor de mim. Minha mina era uma viciada, eu já tinha apanhado dos policiais e quase fiquei aleijado. Não me restava nada. Jurei que ia me vingar. Saí do hospital depois de duas semanas. Precisava de dinheiro. Voltei a roubar. Comprei um cano e fui pra cima. Arrumei uns parceiros. Pensava no meu filho. Lembrei da vagabunda que tinha me colocado nessa encrenca. Por causa dela tinha perdido meu filho... Eu estava cego...

2 comentários:

  1. já sou seu seguidor!

    EDUARDUS,você é um profissional.

    Seus textos comprovam isto.Você está de parabéns!

    Contos corretíssimos, precisos, enfim...

    EDUARDUS, tenho blogs de humor, sou carioca e a razão de tê-los é para manter acesa esta caracteristicas que por aqui sempre tivemos : o humor a gozação e a alegria.

    Mas, confeso que a cada dia está ficando mais difícil.

    No entanto , caso você queira visitar o :

    "COMO ERA FÁCIL FAZER SEXO", endereço é:

    http://adoraonoturnafeminina.blogspot.com/

    UM ABRAÇÃO CARIOCA!

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  2. Olá Eduardo, estou aqui conhecendo sua escrita. Parabéns!! Ganhou mais uma seguidora.

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