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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

SEM SOL*

São Paulo, 24 de Fevereiro de 2040

Hoje completo setenta anos.
Há mais de quatro anos estamos sem sol, sem estrelas, sem lua.
Até hoje ninguém sabe explicar o que aconteceu. Ninguém sabe porque o sol se apagou.
Estamos vivendo na mais completa escuridão. Faz frio. Pessoas estão morrendo e seus corpos abandonados nas ruas. O frio e a baixíssima temperatura conservam os corpos. Há quatro anos não se escuta o cantar dos pássaros. Há mais de quatro anos, não chove. Há mais de quatro anos não se come uma fruta natural. Tudo agora é criado em laboratório.
O homem com toda a tecnologia, criou uma nova maneira de viver. Ninguém mais sai às ruas. Raramente se vê ou se encontra alguém. Os computadores estão ligados vinte e quatro horas por dia. Tudo é assim.
As crianças nascem com problemas de pele, de pulmão.
A gripe suína exterminou mais quatro milhões de pessoas. Acabaram com o câncer mas novas epidemias assolam a terra.
Estamos no mais completo escuro.
As drogas foram liberadas. São vendidas em farmácias. Inventaram novas drogas ainda mais devastadoras que o Crack.
Os jovens estão transformados. Parecem seres de outros planetas. Tatuados, perfurados, modificados. O aborto foi liberado. Hoje, metade das crianças não chegam a nascer. O lixo tomou conta de ruas e avenidas. A perspectiva de vida nesses quatro anos passou de oitenta anos, para quarenta e cinco anos. Os velhos como eu, são poucos, quase nenhum. Tenho saudades da minha família. Todos se foram.
Não há mais cemitérios. Todos os corpos são dissolvidos em ácidos.
Existe a pena de morte. Depois que o primeiro foi morto em rede nacional, a criminalidade diminuiu a zero (disseram que ele era inocente, mas nunca se provou). Houve uma grande migração do campo para a cidade. Não existe agricultura.
A Amazônia foi vendida. Não pertence mais ao Brasil. Nosso território diminuiu imensamente. O Rio de Janeiro foi isolado. Os criminosos que ainda resistem são mandados para lá. Os três estados do Sul conseguiram independência e agora são países.
Hoje completo setenta anos.
Já não escrevo mais. Minhas vistas estão cansadas. Estou aqui sentado no meu velho sofá. Esperando que a morte chegue.
Estamos há quatro anos sem sol...

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