“Tava cansado de me sujeitar a certas humilhações. Tentei trabalhar honestamente como minha mãe me ensinou. Mas tem hora que não dá. A criança em casa esperando a comida. O aluguel vencendo. Cê trabalha como um louco e na hora de receber eles vem querendo te guarfar e ficar com parte do que é seu por direito! Mas comigo não é bem assim que funciona. Mano, já trabalhei de tudo o que podia. Já fui faxineiro. Ficava limpando a merda dos outros. Incrível como os cara de dificuldade de mijar dentro da porra do vaso. Mulher então nem se fala. Ce você fica pensando que banheiro de mulher é limpo e perfumado, cê ta enganado. Mulher também faz a suas merda. Joga papel dentro do vaso, “modess usado”. É foda. Mesmo assim no dia do meu pagamento o dinheiro tava lá. Era pouco mais o dinheiro tava lá no dia certo. Depois mano, fui trabalhar de ajudante de pedreiro. Cara é foda, você quer ver neguinho se achando é você dar um cargo de poder pra ele. Eu tava fazendo tudo certinho. Tava cimentando a calçada, tava sol pra caralho e eu ali no maior trampo. Já tinha mexido o cimento, já tinha carregado lata. Tava de boa agora só deixando a calçada lisinha. Ai vem o troxa me esculachando dizendo que meu serviço tava uma merda. Mano quando eu vi ele pisando na calçada que eu tinha acabado de cimentar, ai eu num agüentei. É foda! Depois fui com um tio meu trabalhar com ele catando papelão. É osso ficar puxando carroça. Ficar revirando lixo, catando o resto dos outros, mas mano, cheguei a ganha 30 conto num dia. Chegava em casa morto, mas levava o pão o leite e uma pedaço de carne. Minha fazia um mexido e a criançada adorava. Eu durmia feliz. Acordava cedo, pegava a carroça e saia pela cidade e não vai pensando que é fácil. Num pode invadi. Cada um tem seu espaço. Porra essa merda de cidade é grande pra caralho e neguinho brigando por causa de lixo. É foda! Um dia eu tava com minha carroça cheia. Tinha conseguido pegar uns ferros que ia da um troco no final do dia. Tava na minha. Final de tarde ai vem uma tiazinha com o carrão do ano buzinando atrás de mim. A carroça tava pesada. A rua tinha um pouco de subida. Eu num tinha espaço, tinha que anda no meio da rua e vagabunda atrás de mim buzinando. Mano, aquela porra foi me enchendo, foi me dexando com os nervo exposto. Pior que eu não tinha como para. Se eu parasse a carroça descia. A raiva foi tanta que eu parei pra discuti com a madame. Quando eu tentei para, a carroça me jogou pra cima. Imagina só eu fiquei cum as pernas no ar e a carroça foi descendo e num deu outra bateu no carro da mulher. Eu pulei e já fui xingando. Quando ela me viu tratou de fechar os vidros. Só vi ela pegando o telefone e ligando pra alguém. Num demoro tava o marido da mulher e mais umas vinte viatura de polícia. Foi um rebu. Ela saiu chorando disse que eu tinha ameaçado ela. Que eu fiz di propósito. Tinha que ver a cara da madame. Essas loira aguada que nunca pego no batente. Caso cum esses home rico e acha que é a dona do pedaço. Num custava nada ela ispera um pouco. Se fudeu. Na minha carroça num aconteceu nada, já no carro dela o estrago foi feio. Ai os policia queria me leva pra delegacia e u disse que num ia e num fui mesmo. O marido dela achou melhor deixa pra lá. Um carrão daquele com certeza tinha seguro. Ninguém respeita. Ficam buzinando, jogam o carro em cima, xingam. Quanto mais luxuoso é o carro pior é as pessoas. Ai mi enchi e fui fazê outras coisa. Um dia tava lendo um desses jornal do metro e tava lá um anuncio de emprego que dizia que contratava sem experiência. Tinha que leva os documento pra faze uma entrevista. Os documentos eu tinha. Era pruma vaga dessas pessoas que fica no telefone ligando pra casa dos outro. Eu cheguei lá na hora marcada e tinha um monti de gente. Tudo um moleques. Uma menina nova com os peito tudo de fora. Como é que vai procura trabalho dessa maneira. Mandaro eu preenche uma ficha e a mulher perguntou se eu sabia lê e escreve, pode? Será que eu tenho cara de analfabeto? Só podi. Sabe, lê eu sei e escreve também. Estudei até a oitava serie e depois tive que fazer meus corre. Família grande. Tinha além de mim mais cinco irmão e minha mãe. Meu pai abandonou a gente quando a gente mais precisava. Ai, sem saída e com pouco dinheiro, a mãe levou nois tudo pra mora na favela. Juntou um dinheiro e comprou um barraco. Eu lembro bem. O barraco era pouco maior que a carroça que eu puxava. Lá morava nois tudo e a mãe cuidava de outras criança e também custurava pra fora. Eu saia com meus irmão pra pedi as coisa na rua. Minha mãe ensinou nois a nunca rouba. Dizia que a gente tinha que trabalha e foi o que nois fizemo. As vezes eu tava uns tapinha num cigarro de maconha mas nada que minha mãe pudesse perceber. Bom ai eu comecei a trabalha nessa empresa. Tinha muita gente. O trabalho era fácil. Eu tinha que liga pra cada dos outro vendendo um produto. Trabalhava pouco e ganhava até que um dinheiro bom. Logo no começo eles mandaro eu abri conta num banco. Logo eu que nunca tinha mexido cum essas coisa. Ele precisava depositar o pagamento na conta. Comecei a me sentir importante. Num desses sobe e desce, conheci uma menina chamada Iasmim. Uma menina de mais ou menos dezenove anos. Escolada. Já era mãe de uma menina. Trabalhava lá de manhã, a tarde cuidava da filha e a noite era dançarina numa boate no centro de São Paulo. Eu gostava do jeito dela e pelo jeito ela também gostou do meu jeito. Não demorou muito e eu tava morando com ela. A casa ficava no terreno da mãe. Sabe esses terreno grande onde mora toda a família junto, então era assim. Na casa da frente morava a mãe. Ela era dona de um bar. Essas mulher que vem do norte. Cara de mulher brava. Mulher de bigode. No fundo tinha a casa da Iasmim, a casa da irmã dela a Claudia e o marido, a casa do outro filho o Marco e a namorada e seu filho. Eu deixei minha mãe e fui morar com ela. Mas num pensa que eu esqueci minha mãe. Na verdade, essa história esta apenas começando. Nois se dava bem. Eu cuidava da filha dela como se fosse minha filha. Num tinha o menor problema. A gente saia pra passia, ia nu Shopping, comprava ropa pra ela e pra mim e pra criança também. As vezes a gente brigava mas não era nada sério. A gente tomava umas breja junto e tava tudo bem. Num deu muito certo porque as pessoas lá queria cuidar da vida da gente. Sabe como é, muita gente falando, querendo cuida. Ai nois resolvemos alugar um quarto só nóis mora. A gente trabalhava e podia paga. O legal é que a gente ia junto trabalhar. Deixava a pequena na creche e saíamos de mãos dada. A gente fazia planos. Eu fazia ela rir muito. De domingo a gente ia visitar minha mãe e meus irmão. Passava na padaria comprava frango assado, refrigerante, ai era uma festa. Tava tudo indo muito bem na minha vida. Sempre segui os conselhos da minha mãe. Ela sempre dizia que se você faz o mal, o mal sempre volta. Ela não tinha criado filho vagabundo. Ela fez nóis tudo estuda e eu como filho mais velho tinha que ficar de olho nas minhas irmãs. Sabe como é, os homens não dão moleza. Sou homem e sei como ele pensa.
Mas ai, um dia lá na empresa eu fui chamado na sala de reunião. O chefe foi logo falando que estava contente com meu desempenho, com minha dedicação. Disse que por causa dos resultados a empresa ia me dar uma chance e ia me promover, mas que eu precisava com essa promoção cursar uma faculdade. Claro que agi normalmente como se aquilo não fosse surpresa pra mim. Sai de lá e fui correndo procurar minha preta. Queria conta que eu ia me dar bem e que ela era o motivo de tudo isso. Eu estava eufórico. Eu ia ser promovido e ia fazer faculdade. Tudo isso era demais. Queria contar pra minha mãe. Eu ia fazer um treinamento e depois eu já passaria a receber como supervisor. O salário aumentava. Ia dar pra arrumar uma casa melhor e quem sabe até pensar em ter um filho nosso. Olha de catador de lixo, de faxineiro eu ia ser supervisor. Ia ter que andar de gravata. Coisa xique. Comecei até pensar em comprar um carro pra poder viajar.
Só que as coisas sei lá porque começaram a dar errado e ai que eu me revolto e brigo com Deus. Minha mãe ficou doente e mal podia cuidar das minhas irmãs. Falei pra preta que eu ia ter que ficar com minha mãe por uns dia até ela ficar bem. Ai começamos a discutir porque ela não queria. Começou a falar da minha mãe e ai não prestou, perdi a cabeça e dei um murro na cara dela. Vi o olho dela inchar na mesma hora. Tentei falar com ela mas ela num queria saber. Começou a me bater e a me xingar de tudo quanto é nome. A pequena começou a chorar. Os vizinhos vieram e levaram ela dali. Eu fui pra casa da minha mãe. A coitada tava de cama e eu num ia conta pra ela o que tinha acontecido. Eu tava lá cuidando dela quando bateram no portão. Era a polícia. A preta tinha ido à delegacia dar queixa de mim e os homens vieram me pegar. Minha mãe que tava ruim ficou pior quando viu eu sair de lá algemado. Eu nunca fugi da briga. Eu tinha feito a merda agora tinha que assumir. Na frente do delegado e a preta, disse que e tinha dado um murro nela quando ela começou falar da minha mãe. A preta disse que foi errada mesmo e resolveu não prestar queixa. Ela saiu de lá primeiro que eu e depois disso não mais nos falamos. O delegado me fez passar uma noite na delegacia pra pensar no que eu havia feito. Quando eu estava na cela, o carcereiro disse que o delegado mandou me chamar. Tinha acontecido algum coisa com a minha mãe e ele me liberou. Fui pra casa correndo e já tinha levado minha mãe para o hospital. Eu não ia me perdoar se tivesse acontecido algo de ruim com minha mãe. Cheguei no hospital e recebi a notícia que minha mãe tinha acabado de falecer.
Olá Eduardus!
ResponderExcluirPrazer em estar aqui!
“Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)
Gostaria de lhe convidar para que comentasse o meu conto “O CAMINHO PARA A CASA DE PORTINARI”. Ok?
Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com